A atacante que comeu a grama do Olímpico (Ketty)
Parte de As pioneiras do futebol pedem passagem: conhecer para reconhecer . páginas 17 - 28
Resumo
Porto Alegre, 17 de abril de 1983. A cidade se mobilizou para receber um clássico do futebol brasileiro. Grêmio e São Paulo se enfrentaram em pleno Estádio Olímpico para disputar uma partida da terceira fase da Taça de Ouro, denominação do Campeonato Brasileiro daquele ano. O público presente no estádio, 40.820 pessoas para a capacidade máxima de 51.081, não sabia que, naquele dia, presenciava um momento histórico: a entrada em campo das jogadoras do Sport Clube Rio Grande e do Clube Esportivo Bento Gonçalves que na preliminar disputaram o que talvez tenha sido o primeiro jogo oficial entre equipes de mulheres no Brasil. Isso aconteceu porque, cinco dias antes, o Conselho Nacional de Desportos (CND) autorizou as federações e associações esportivas a organizarem jogos e campeonatos. Até então, isso era proibido porque existia um Decreto que oficializou a interdição às mulheres “de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Esse documento ficou vigente por quase quarenta anos, sendo revogado apenas em abril de 1979. Mesmo não nomeando os esportes contraindicados, sua existência provocou várias interpretações e serviu de justificativa para o surgimento de discursos e práticas que limitaram a presença delas no futebol, tornando-o, muitas vezes, uma prática proibida. A publicação no Diário Oficial da União, no dia 11 de abril de 1983, do decreto que regulamentou o futebol feminino no país foi determinante para sua estruturação e desenvolvimento. Essa decisão aplicou um cartão vermelho no preconceito existente na época e tornou visível que, mesmo não sendo legalmente autorizadas, as mulheres há muito tempo já praticavam este esporte e nele inscreviam suas histórias.