Editora Imprensa do Exército. Brasil 1967. 102 páginas.

Sobre

O livro não-comercial “A Atividade Desportiva nos Climas Tropicais e uma Solução Experimental: o Altitude Training” (Imprensa do Exército, RJ, 1967, 102 pags) de Lamartine Pereira da Costa (também identificado por “DaCosta, L.”), representa a inauguração plena e efetiva das Ciências do Esporte em língua portuguesa. Esta interpretação ganha validade por ser uma obra organizada nos padrões de identificação dos fundamentos (referências bibliográficas), descrição rigorosa da metodologia, ordenação estatística dos dados coletados como também considerando delimitações das hipóteses e conclusões, critérios até então ausentes em estudos precedentes no Brasil, na área de Educação Física e Esporte.

Diante do desafio de se caracterizar o esforço físico no ambiente quente dos trópicos visando melhoria das performances esportivas, o livro relata a adoção de rigor no preparo e na realização dos experimentos. Assim sendo, descrevem-se os extensos períodos de ensaios e revisões teóricas da pesquisa tema da obra: três anos de reconhecimentos de experiências sobre atividades físicas no exterior e no Brasil (1961 – 1963) e três anos de trabalhos experimentais em campo em regiões de altitude e florestas no Estado do Rio de Janeiro (Parques Nacionais da Tijuca e de Itatiaia, e área montanhosa de Nova Friburgo) entre 1964 e 1966. Daí o livro pôr em evidência 203 referências bibliográficas atualizadas – sobretudo estrangeiras - em Treinamento Físico, Fisiologia do Exercício e Climatologia como base de sustentação das experiências práticas em campo.

O tamanho e detalhamento necessário dessas considerações teóricas não por acaso produziu a decisão de se fazer um livro e não um artigo. Outra razão de se optar por relatos minuciosos e descritivos  oi o de se criar uma base de conhecimentos sobre a Metodologia da Pesquisa Científica à época bastante rudimentar no campo das Atividades Físicas em línguas portuguesa e espanhola.

Dado o porte e duração dos trabalhos, foi organizado um apoio institucional, militar e civil, também inédito no Esporte e na Educação Física do país, a partir da Marinha do Brasil, origem do autor responsável pela pesquisa. Este suporte incluiu seis organizações civis e cinco militares, reunindo seis especialistas civis - três da Medicina do Esporte - e onze auxiliares militares, além naturalmente dos dez atletas, sujeitos da pesquisa. Entre os apoiadores militares cabe destacar o Capitão-Tenente da Marinha, Danilo Silvestre Fernandes, responsável pela organização dos dados coletados e estudos estatísticos. Estes foram processados por um computador IBM 1401, uma das primeiras máquinas deste tipo posta em operação no Brasil nos primeiros anos de 1960, por iniciativa da Divisão de Processamento de Dados (DI – 17) da Marinha no Rio de Janeiro.

Além dessa inovação na metodologia da pesquisa cabe enfatizar outro avanço inédito no âmbito esportivo, representado pela criação do “Altitude Training” como meio de melhorar performances descoberto durante as experimentações de Treinamento Esportivo ao se mensurar o esforço físico em altitudes variadas. Tanto este resultado como a realização da pesquisa em seus detalhamentos foram possibilitados pelo acesso preliminar de Lamartine DaCosta ao estado da arte na temática do treinamento físico em relação à adaptação humana em face às variações ambientais. Tal disponibilidade ocorreu pela filiação deste autor à Academia do Conselho Militar do Esporte – ACISM (membros civis e militares) e à Sociedade Internacional de Biometeorologia – ISB (entidade científica civil).

Neste particular, ressalve-se que o conhecimento vindo do exterior não foi reproduzido – como antes era tradicional no Brasil e na América Latina em termos de Esporte e Educação Física – mas apenas serviu de base à criação local, algo que se tornou comum nos estudos nacionais sobre Atividades Físicas apenas a partir da década de 1970.

Em conclusão, as repercussões renovadoras da obra ora em destaque na Ciência Brasileira merecem atenção dos profissionais de Educação Física desde que o fator “inovação”, antes percebido como mera façanha individual, hoje é sobretudo interpretado como sustentação do desenvolvimento social, econômico e cultural.

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