Resumo
Com esta pesquisa buscou-se conhecer experiências de brincadeiras no 1º ano do Ensino Fundamental em uma escola do município de Campinas-SP. A partir de análises sobre a promulgação da lei 11.274/06, que determina a obrigatoriedade de matrícula das crianças de seis anos no ensino fundamental, e das diretrizes oficiais publicadas pelo Ministério da Educação que indicam a importância e urgência de se construir um novo currículo para os primeiros anos do novo ensino fundamental (do qual as brincadeiras devem fazer parte), trabalhos investigativos têm evidenciado mínima presença da atividade lúdica no cotidiano das crianças ingressantes. Entretanto, as pesquisas realizadas têm focalizado, prioritariamente, as salas de aula e deixado a descoberto outros espaços e tempos que também compõem a rotina escolar. Com a presente pesquisa pretendeu-se contribuir para preencher esta lacuna; para isso, investigou-se a ocorrência de experiências de atividades lúdicas com ingressantes do primeiro ano do novo Ensino Fundamental nas aulas de Educação Física, buscando atingir os seguintes objetivos: (i) identificar se e como ocorrem episódios de atividade lúdica; (ii) em caso positivo de ocorrência, identificar, dentre as diferentes modalidades de brincadeiras, se as práticas pedagógicas privilegiam alguma(s) dela(s). A fundamentação teórica de nosso estudo encontra-se na abordagem Histórico-cultural, especificamente a partir dos trabalhos de L. S. Vigotski, A. N. Leontiev e D. B. Elkonin, com especial interesse nas proposições desses autores sobre a brincadeira e a mediação pedagógica. A pesquisa tem caráter qualitativo e foi desenvolvida por meio de observação participante em aulas da disciplina focalizada, ao longo do segundo semestre de 2011, e de entrevista semi-estruturada realizada com a professora. Além disso, foram feitas pesquisas de revisão bibliográfica buscando localizar dissertações e teses que tenham investigado o novo Ensino Fundamental e pesquisa documental nos documentos oficiais do Ministério da Educação que se referiam a questões da ampliação do ensino. Na análise dos registros da observação, identificou-se a ocorrência de várias brincadeiras, porém desenvolvidas por iniciativa das crianças e não autorizadas pela professora, representando um contraponto à prevalência de testes de habilidades motoras nas práticas pedagógicas. Em termos de modalidades de brincadeiras, registraram-se mais frequentemente jogos de regras e de exercícios, sendo raras as brincadeiras de faz-de-conta. Propõe-se, face aos resultados encontrados, uma discussão acerca do papel da formação do professor para incorporação ou não de práticas pedagógicas que contemplem uma diversidade de atividades visando ao desenvolvimento psicológico das crianças em múltiplos aspectos.