Resumo

Esta dissertação é resultado de uma pesquisa que teve como objetivo compreender e analisar de que forma docentes e discentes, no âmbito da Educação Física, realizaram e compreenderam suas experiências em relação à avaliação emancipatória, no Ensino Médio Politécnico (EMP), durante o último ano de sua vigência, em 2016. A metodologia baseou-se na abordagem qualitativa, com o tipo de estudo de caso etnográfico. Duas escolas da rede pública do Estado do Rio Grande do Sul, localizadas no município de Santa Cruz do Sul, compuseram os cenários da pesquisa empírica. Em cada uma dessas instituições acompanhou-se uma turma de EMP nas aulas do componente Educação Física durante três meses. Os sujeitos colaboradores foram os docentes das referidas turmas, estudantes e supervisão e/ou representante da direção escolar. As técnicas que foram utilizadas para a coleta, organização e análise dos dados constituíram-se de: observação participante das aulas de Educação Física e de um conselho de classe em cada turma/escola; entrevistas semiestruturadas com os docentes e com uma discente de ambas as turmas, um Supervisor Escolar e um Vice-Diretor; e análises documentais. A análise apoiou-se nas seguintes categorias dialéticas: contradição, historicidade e totalidade. As principais categorias de conteúdo foram: abordagens pedagógicas da Educação Física no Ensino Médio, regulação e emancipação. A Educação Física no Ensino Médio apresenta uma variedade de abordagens pedagógicas, muitas das quais podem coexistir e influenciar práticas avaliativas contraditórias. As principais apresentadas nessa dissertação estiveram divididas em dois grandes blocos: as mais conservadoras (higienista, militarista, pedagogicista e competitivista); e as mais sociais ou humanizadoras (desenvolvimentista, promoção da saúde, psicomotora, construtivista-interacionista, jogos cooperativos, aulas abertas, sistêmica, crítico-superadora, cultural, crítico-emancipatória e as delineadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio). A avaliação da Educação Física nas duas turmas era realizada a partir de critérios semelhantes, baseados na assiduidade e na participação. A avaliação praticada na Escola A esteve mais alinhada ao modelo de avaliação mercadológica e competitiva, apesar de, nas aulas de Educação Física, o docente não utilizar o desempenho corporal e tecnicista como principal critério avaliativo. Nessa instituição, houve uma valorização das práticas avaliativas em consonância com as avaliações regulatórias externas, como o Exame Nacional do Ensino Médio, comprometendo ou diminuindo as condições de possibilidade de uma avaliação com base na democracia e na emancipação dos sujeitos. A Escola B apresentou críticas ao modelo de educação e avaliação capitalista, porém, sua prática esteve desconectada do âmbito de um planejamento mais humanístico, apresentando distorções entre o dito e o praticado. A prática do rolar a bola ou a concepção do fazer por fazer, desassociou o ato de avaliar daquilo que deveria ser a sua essência: a aprendizagem. Como ferramenta avaliativa, o caderno de chamadas foi configurado como o principal instrumento utilizado pelos docentes para compor a avaliação da participação dos alunos nas aulas. Quanto à avaliação do EMP, as duas escolas e os dois docentes do componente apresentaram semelhanças: ambos não inseriram os alunos no centro do processo avaliativo. Dificuldades de se trabalhar com avaliação conceitual em uma cultura escolar baseada na tradição da nota, bem como de se avaliar por área de conhecimento foram alguns obstáculos enfrentados pelos sujeitos em ambas as escolas. Além disso, a falta de investimentos e as condições de trabalho marcadas pela precarização foram pontos que interferiram negativamente para uma prática avaliativa emancipatória no Ensino Médio. Na tensão entre regulatório versus emancipatório não se deve perder a utopia do horizonte, no qual as práticas avaliativas possam, em consonância com as abordagens pedagógicas, contribuir para a conscientização e a democracia.

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