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Casa é aquele lugar sagrado que está associado ao acolhimento. Pode ser uma moradia com diferentes tamanhos, formatos, projetada ou não por arquitetos e engenheiros, com a dimensão de um barraco ou de uma mansão. Sinônimo de segurança distingue-se de lar que é a versão afetiva do espaço material constituído por piso, paredes e telhado. Dentro dessa casa/lar é possível reunir pessoas com diferentes finalidades que vão de uma reunião de trabalho a uma grande festa para celebrar feitos e conquistas. Diferente das cavernas ou tocas que tiveram a finalidade de abrigo, toda casa é moradia, uma construção cultural que reflete a sociedade que a constrói.

Diante da complexidade desse objeto, que é também conceito, facilmente se entende por que nos momentos mais difíceis da vida, o desejo de quem está perdido ou demasiadamente cansado, é voltar para casa.

Durante o último século, as exposições universais eram uma forma de aproximar os povos. Sem os meios de comunicação atuais, que fazem o mundo se conectar com a pressão de um botão, casas eram construídas ou produzidas em cidades que abrigavam esses eventos. Vale lembrar que em 1900, em Paris, ocorreu uma dessas exposições, que ganhou a Torre Eifel como símbolo e também os Jogos Olímpicos.

Nas últimas edições olímpicas o Brasil esteve presente com a mesma ação bem-sucedida de outros países que montaram suas casas na cidade olímpica. O objetivo não era apenas mostrar a pujança do esporte nacional ou servir de base para que atletas medalhistas compartilhassem suas histórias de sucesso após o pódio. Esse espaço com piso e teto, que para alguns chegou a ser um lar porque ali eram apresentadas as memórias de uma difícil trajetória que culminava num final feliz, era também um lugar para mostrar o que era esse país. Contou ao longo dos anos com apoio do governo federal por meio de ministérios que construíram a imagem de uma pátria que dava orgulho aos brasileiros e ao mundo. Era um espaço de apresentação da cultura, da economia, do meio ambiente, do turismo e também do esporte, do que éramos e do que gostaríamos de ser. É inegável que custava caro, como costuma acontecer com a construção e manutenção de todas as casas, mas para quem está acostumado com economia doméstica, sabe-se que com planejamento faz-se festas nababescas nos lares mais modestos.

Sinal dos tempos, esse ano caiu a casa Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Sem apoio do governo federal, sem patrocínios e com despesas mais importantes para pagar o COB desistiu de um projeto que custaria alguns bons milhões de reais. Faz todo sentido.

Não se pode pensar em construir um palacete quando seus habitantes e usuários à beira da fome. Esse ciclo olímpico foi marcado pelo desmonte de uma estrutura construída há anos. A perda de recursos preciosos comprometeu a preparação de atletas e equipes empurrando para o abismo um projeto que deveria colher ainda frutos do efeito residual da edição Rio 2016. As conquistas e pódios que começaram com a medalha de prata de Felipe Wu, com a volta por cima de Rafaela Silva, a redenção do vôlei masculino, a sagração de Izaquias Queiroz e da dupla Martina Grael/Kahena Hunze e de tantos outros atletas brasileiros, medalhistas ou não, foram ofuscados pelos escândalos protagonizados por dirigentes máximos do esporte brasileiro.

A quebradeira do esporte nacional fica agora expressa na ausência de uma residência que abrigaria uma construção temporária, onde seria exposto com orgulho a produção de uma nação. A demolição de um sonho de grandeza expõe ainda a fragilidade da estrutura na qual não se sustentaram as paredes que deveriam abrigar as bases para que as gerações futuras pudessem construir o sonho e um país esportivo.