Resumo

Breve descrição da pesquisa ou do projeto de extensão universitária
As relações de gênero no esporte acontecem de forma estrutural e culturalmente masculina. Por sua vez, os aspectos e os resultados dessa circunstância estão refletidos em problemas como desvalorização da mulher atleta, falta de investimento e pouca visibilidade. A mídia, neste caso, funciona como vitrine para a representação dessas figuras femininas e de parte de suas demandas.

Em 2018, a brasileira Marta Vieira da Silva foi eleita pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), pela sexta vez, a melhor jogadora do mundo. Com esse título, a atleta quebrou recordes entre o futebol feminino e masculino. Sendo assim, sob a luz da questão de gêneros, procuramos discutir tal fato enquanto pauta do jornalismo esportivo, considerando aspectos do contexto sociocultural do esporte e do futebol feminino.

Objetivos
Em termos gerais, o objetivo deste trabalho é entender e analisar qualitativamente a forma como a televisão aberta brasileira conduziu a cobertura da conquista da jogadora. Para isso, selecionamos como objetos de análise as reportagens de quatro programas: Globo Esporte São Paulo (GE) e Esporte Espetacular (EE), ambos da Rede Globo, Jogo Aberto (JA), da Rede Bandeirantes, e Cartão Verde (CV), da TV Cultura.

Material e métodos
A escolha do material levou em conta a data do prêmio (24 de setembro): selecionamos a primeira edição de cada atração logo após o evento da Fifa. Com isso, para avaliar se houve ou não reportagens sobre a premiação e identificar alguns aspectos, como as características atribuídas à jogadora, a presença ou não de estereótipos e diferentes abordagens, partimos de uma observação geral com posterior determinação
de categorias semelhantes de análise, conforme a metodologia de Bardin (2011). Dessa forma, consideramos as seguintes categorias e aplicações de critérios nos objetos selecionados: construção da imagem (identificar a forma como a jogadora foi descrita); direcionamento (encaminhamento do conteúdo: a vida e a vitória da brasileira ou o evento de premiação); tempo dedicado (total da notícia, dedicado à Marta e aos desdobramentos do evento); comparação e menção (se houve comparações,
menções ou analogias ao futebol masculino e seus jogadores); contextualização (presença ou ausência de discussão sobre o cenário do futebol feminino e suas barreiras no país).

Resultados e discussões
Com a aplicação das categorias nos objetos, é possível destacar alguns resultados, como o fato de que o JA apenas noticiar o prêmio com uma nota curta de sete segundos – o fato também esteve na escalada do programa durante 12 segundos. No GE, a reportagem envolvendo o episódio foi direcionada ao evento
no geral, sendo 1min28seg (do total de 2min21seg) dedicados à Marta. Na atração, observamos aspectos que podem se encaixar na reprodução de estereótipos de figuras femininas (menção à roupa de Marta e ao componente emocional do momento).
No EE, foram dois materiais. O primeiro, uma reportagem, cita dificuldades e preconceitos sofridos por Marta, sem qualquer aprofundamento; e traz à tona nomes de homens (Messi e Cristiano Ronaldo, além de Pelé). No segundo, uma entrevista com Marta, a questão da comparação foi mais evidente, com pergunta sobre competição com jogadores homens e opinião sobre prêmio masculino. Ambos nos fazem questionar a colocação dos times masculinos como parâmetro pelos materiais. No CV, houve conteúdo sobre os primórdios do futebol feminino no Brasil e citação sobre a lei que proibiu o futebol feminino no Brasil. Por isso, há destaque para a categoria contextualização, o que é positivo, pois confere credibilidade à informação, aprofunda discussões necessárias ausentes em programas diários e dá visibilidade ao tema.

Considerações finais

Consideramos que programas diários, que trazem em sua grade pautas sobre campeonatos masculinos e assuntos mais quentes do dia, oferecem espaço mínimo à discussão sobre a modalidades femininas em geral. Mesmo com o prêmio inédito recebido por Marta, não houve mudança expressiva nesse quesito. Percebemos que os programas que conseguem se aprofundar mais – levando em conta os tipos de reportagens e a periodicidade –, oferecem oportunidade ao tema.

Referências bibliográficas
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011, 229p.
GOELLNER, Silvana Vilodre. Mulheres e esporte: sobre conquistas e desafios. Revista do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, Ano II, número 4, Brasília 2012. Disponível em: http://www.ufrgs.br/ceme/arquivos/prodPublicacoes/1367187862-
observatorio,%20Mulheres%20e%20esporte.pdf. Acesso em: 29. jul. 2019.
____________________. Mulher e esporte no Brasil: Entre incentivos e interdições elas fazem história. Pensar a prática, 8(1), 85-100, 2005. Disponível em:
https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/106/101. Acesso em: 29. jul. 2019.
PFISTER, G. Women in sport: gender relations and future perspectives. Sport in Society, 13:2, 234-248, 2010.