Resumo

Alguns estudos têm apontado que a cobertura midiática do esporte paralímpico vem crescendo. Vários desses estudos, no entanto, também têm questionado a abordagem dessa cobertura, que pode tanto gerar percepções positivas quanto negativas em relação às pessoas com deficiência. Considerando essa realidade, investigamos a compreensão de pessoas com deficiência física, atletas e não atletas, a respeito da cobertura dos Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Essa pesquisa foi de cunho qualitativo, descritivo e exploratório, e inspirou-se em algumas características dos estudos de recepção. Os dados foram produzidos com base em entrevistas coletivas estabelecidas durante os Jogos, envolvendo um total de 14 interlocutores. Um dos grupos foi composto por seis atletas de uma equipe masculina de basquetebol em cadeira de rodas; o segundo grupo incluiu cinco atletas de uma equipe de esgrima em cadeira de rodas; o terceiro grupo foi formado por três frequentadores da Associação de Assistência ao Paraplégico (APAP). De modo geral, todos os interlocutores consideraram que a cobertura midiática do evento foi escassa e que deveria ter recebido maior destaque nos meios de comunicação. Ainda assim, apesar desse este apontamento inicial, os não atletas fizeram elogios aos conteúdos abordados e se mostraram mais satisfeitos com o que foi exibido. Já os atletas, devido à sua vivência e afinidade com o esporte, apresentaram uma visão mais crítica. Eles consideraram alguns profissionais da mídia despreparados, pois identificaram informações equivocadas nas narrações das competições e nas notícias. Eles também identificaram a reprodução de estigmas e preconceitos em conteúdos veiculados, bem como apontaram que as matérias enfocavam mais as deficiências e as histórias de vida supostamente tristes e trágicas dos desportistas do que as suas conquistas esportivas. No geral, os atletas afirmaram se sentir incomodados com discursos que se referem aos atletas paralímpicos como "coitadinhos" só porque eles têm uma deficiência. Eles igualmente afirmaram não apreciar discursos que colocam os atletas como super-heróis porque obtiveram êxito esportivo "apesar" das suas deficiências. Eles entendem que as conquistas dos atletas são fruto de treinamento, dedicação e disciplina, e que, portanto, não são algo extraordinário, que os eleva à uma categoria de super-humanos. Os desportistas também se mostraram frustrados com o fato de a mídia não criticar os atletas paralímpicos quando estes apresentaram um rendimento abaixo do esperado, como se eles fossem frágeis e precisassem ser protegidos. Outra crítica deles foi sobre a tendência da mídia não cobrir modalidades que contemplem deficiências as quais possam causar estranheza ao público. Em suma, para os atletas, a mídia deve tratá-los como atletas, enfocando menos as suas deficiências e mais a sua trajetória e suas conquistas esportivas. Os resultados deste estudo oferecem subsídios que podem contribuir para a qualificação da mídia na cobertura do esporte paralímpico. 

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