A Colonialidade Do Saber E Os Estudos Do Lazer: Diálogos Sobre Negritude E O Lazer
Por Lucilene Alencar Das Dores (Autor), Juliana Araujo De Paula (Autor).
Em XXIII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte. IX CONICE - CONBRACE
Resumo
Neste texto destacamos os principais apontamentos de uma pesquisa cujo objetivo foi realizar um levantamento bibliográfico da produção teórica do campo dos Estudos do Lazer a fim de analisar como a temática racial é tratada nas produções no âmbito do Programa de PósGraduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGIEL/UFMG), considerando a presença da colonialidade do saber que marca a produção do conhecimento. A pesquisa adotou como pressuposto o arcabouço teórico do pensamento decolonial que aponta a existência, ainda na atualidade, dos vestígios do projeto colonial por meio da colonialidade3 . A invasão das terras brasileiras pelos portugueses bem como a dominação de corpos e culturas de quem habitava o Brasil, fazem parte do projeto de poder que, mesmo com o término do processo de colonização, permanecem presentes no contexto social, cultural, político e acadêmico-científico. Na produção do conhecimento, a colonialidade do saber evidencia a dimensão epistêmica do poder, sendo um aspecto constitutivo e não derivado pois “refere-se ao efeito de subalternização, folclorização ou invisibilidade de uma multiplicidade de saberes que não responde às modalidades de produção do 'saber ocidental' associado à ciência convencional e ao discurso especialista” (RESTREPO; ROJAS, 2010, p. 136). Enquanto pesquisadoras do campo dos Estudos do Lazer, voltamos nossos olhares para as produções de conhecimentos sobre o lazer e negritude com o intuito de e reconhecer a potência do Movimento Negro na construção de saberes para o enfrentamento da colonialidade do saber e do racismo. Assim, em diálogo com a discussão de Gomes (2017), buscamos compreender como o lazer relaciona-se com a negritude, trazemos à cena os conhecimentos produzidos pelo Movimento Negro e a sua relevância para a discussão étnicoracial na produção do saber acadêmico-científico.Para isso, utilizamos o método de pesquisa bibliográfica para levantar os dados e realizar a análise. Por meio de uma pesquisa no sistema de biblioteca digital da UFMG identificamos as teses e as dissertações defendidas no PPGIEL, de dezembro de 2008 até dezembro de 2022, a partir de um duplo movimento: mapear os trabalhos específicos sobre a questão racial e que revelavam esse recorte pelo título e; identificar os trabalhos que abordam as práticas sociais de lazer como um espaço de protesto, demarcação das diferenças, opressões, desigualdades através dos vínculos ancestrais e/ou culturais com o povo negro. A pesquisa no repositório da UFMG culminou na seleção de quinze trabalhos: Costa (2013); Costa (2017); Felizardo Junior (2017); Ferreira (2021); Jesus (2015); Kanitz (2011); Melo (2013); Nigri (2014); Nunes (2020); Palhares (2017); Ramos (2022); Sousa (2021); Souza (2016); Viana (2013) e Viana (2021). Após esse processo, iniciamos o estudo dos debates implícitos/ explícitos da questão étnico-racial nas referidas produções.