Resumo

Este trabalho teve como tema a formação da masculinidade a partir de tabus corporais: especificamente o tabu da não violação do ânus. A pergunta central foi de que maneira os homens encaram o exame de toque retal? Há um sentimento de perda de masculinidade? Tal indagação foi norteada pela hipótese de que sim, isso ocorreria, uma vez que a vinculação do ideal de masculinidade a não violação anal seria um elemento tradicional na formação do homem ocidental moderno. O referencial teórico foi baseado no tripé: o corpo visto sob a ótica da Antropologia, a masculinidade e a saúde homem e a formação da pessoa, também sob o prisma da Antropologia, iluminando a análise dos dados coletados, tomando como conceito-chave a noção de socialização, que remonta à Escola Sociológica Francesa. Foram coletados dois tipos de dados distintos: charges cômicas que abordam o exame de toque retal, além de entrevistas realizadas com homens acima de 45 anos de idade, coletadas na Cidade do México e em São Paulo. O que se observou, a partir das respostas obtidas, é que os homens procuram serviços médicos preventivos, e que cerca de metade deles fazem exames preventivos da próstata, especificamente o de toque retal. Ressalto que esta análise levou à conclusões semelhantes tanto para São Paulo quanto para a Cidade do México. Parte significativa dos entrevistados manifestou ter receio antes de realizar o exame de toque, sinalizando contra o ideal de masculinidade arraigado culturalmente. Assim, a grande maioria dos entrevistados empregou a expressão tem que fazer, quando mencionaram o exame de toque. Isso indica que o discurso médico-racional se sobrepôs aos elementos culturais mais tradicionais, alterando de certa forma, a concepção de pessoa masculina. A hipótese levantada no início do estudo foi parcialmente refutada, uma vez que esperava-se encontrar um generalizado mal-estar individual e social manifestado por homens que se submetem ao exame de toque retal. Refutada em parte, porque, individualmente, os homens, brasileiros e mexicanos não apenas se mostraram favoráveis à prevenção e à promoção da saúde, como também fazem uso dos recursos médicos disponíveis.

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