Resumo
A presente pesquisa buscou problematizar a memória de agentes negros que testemunharam o handebol no ginásio prof. Ronald Carvalho em São Luís (MA). Trata-se de uma pesquisa qualitativa com corpora ancorados nos pressupostos teóricos-metodológicos nos estudos da Memória e da História Oral. Para fazer parte da amostra, os agentes negros deviam ter experienciado e testemunhado o handebol no ginásio nos Jogos Escolares Maranhense (JEM) por uma escola ludovicense entre os anos de 1970 e 1980; ter experienciado algumas das funções como: técnico, atleta, árbitro, dirigente, torcedor e em escola diferente dos demais entrevistados. Foram realizadas entrevistas, que foram gravadas e transcritas, com nove indivíduos negros. Os produtos da pesquisa foram sistematizados em dois artigos acadêmicos. No primeiro artigo, procura-se, a partir da memória do interior do ginásio, identificar agentes negros em distintas funções, instituições escolares e interpretar os mecanismos de ação e produção do handebol no interior dos JEM na estruturação do campo esportivo dos jogos. Os resultados indicaram os motivos dos agentes negros selecionados para experienciar outros eventos esportivos local e nacional, suas“produções” e atender às demandas do handebol maranhense. O segundo artigo versa sobre o Curso Técnico em Educação Física da Escola Técnica Federal de São Luís (ETFMA) (1970-1980). Identificou-se um curso voltado para agentes sociais negros oriundos dos JEM, que desejavam atuar no campo esportivo profissional maranhense, mas sem capital simbólico, social e econômico exigidos nas Instituições Ensino Superior (IES) local e não local, descortinando assim, muito mais sobre o seu tempo. O terceiro artigo é produto de uma investigação acerca da memória experiencial de três mulheres negras atletas de handebol que vivenciaram a gênese da estruturação do esporte no Maranhão e no Brasil nas décadas de 1970 e 1980. Os resultados apontaram que as atletas se inseriram de modo semelhante no handebol, seus habitus cruzados na iniciação esportiva escolar, nas seleções estudantis e em clubes locais e nacionais, que enfrentaram tensões, afastamento da família e dos amigos, racismo e discriminações, adaptações aos treinos, salários irrisórios e grande sucesso esportivo. Ressalta-se que os agentes negros construíram um legado intergeracional para as atuais e futuras atletas negras, que o presente estudo procurou evidenciar. Conclui-se que a violência epistêmica e o sistemático memóricidio negro no campo científico e esportivo da sociedade brasileira aparecem como uma marcaconstituinte da memória social oficial do handebol no Maranhão. Frente a isso, a pesquisa em forma de luta é possível quando considera os objetivos e as prioridades de um grupo marginalizado pela sociedade. Enfim, intelectuais negros insurgentes de seu campo de atuação são convocados a combater o esquecimento, o silenciamento e o apagamento da memória negra, o memóricidio do povo negro.