Resumo
A Educação Física escolar (EFE) brasileira, em seu contexto histórico, foi diretamente influenciada pelo governo vigente, desempenhando diferentes funções e objetivos. Nos anos 80 com o surgimento de diferentes visões de EFE a disciplina perde sua identidade dominante e amplia ainda mais suas possibilidades na escola. O currículo da Educação Física (EF), inicialmente pautado em conteúdos ginásticos, passa a ser ampliado contemplando todos os temas da cultura corporal do movimento. Atualmente muitos sistemas e ensino têm elaborado e implantado propostas curriculares padronizadas. Regiões com grandes extensões de terra com diferentes culturas locais acabam tendo que desenvolver os mesmos conteúdos de um currículo que possivelmente não atende as suas necessidades. O problema não é criar parâmetros, mas engessar a prática pedagógica dos professores. O presente estudo, dividido em dois momentos, busca investigar e analisar em uma perspectiva qualitativa a construção, implementação e desenvolvimento de uma proposta curricular pública, assim como alguns desdobramentos desta política na prática pedagógica dos professores. No primeiro momento realizou-se uma pesquisa bibliográfica dos últimos cinco anos, em oito periódicos sobre artigos que discutiram o currículo e os conteúdos da EFE além de documentos legais e obras clássicas e atuais de autores que abordam o tema currículo em sua ampla dimensão, onde se traçou a trajetória da construção sócio-histórica do currículo da Educação Física desde sua introdução na escola brasileira. Percebeu-se a evolução do currículo da EFE e sua legitimação como componente curricular obrigatório do currículo do ensino básico. Percebe-se nas teorias pedagógicas, ideias de teorias curriculares para área. O currículo tornou-se amplo e plural, mas os conteúdos mais desenvolvidos na escola continuam sendo em sua maioria os esportes. Num segundo momento realizou-se uma pesquisa de campo através de análise documental e entrevistas semi-estruturadas com professores que construíram, implantaram e desenvolveram a proposta. As propostas curriculares são reflexos de uma formação almejada, que esboça uma identidade a ser construída a partir de uma perspectiva de EFE. Impregnada de ideias e perspectivas, a proposta curricular está longe de ser neutra e imparcial. Carrega em seu bojo os interesses de quem a idealiza e a constrói, que dificilmente refletem os interesses de quem a põe em prática. A proposta estudada possui pontos e contrapontos a favor da EFE. Da construção ao desenvolvimento da proposta há melhorias possíveis de serem realizadas para democratizá-la e a legitimar perante os docentes. Os professores investigados não conseguem desenvolver fielmente a proposta, seja pela falta de capacitação, de estrutura física, de materiais, de apoio pedagógico, de tempo, ou de não atender os objetivos do público. A proposta, as avaliações, o sistema de registros de dados online, de lançamento de notas, bônus, gratificações e metas do Estado estão relacionados, o que evidencia o modelo de meritocracia. Recomenda-se estudos e debates sobre o currículo na formação inicial e continuada dos professores de Educação Física. Propostas curriculares estão sendo criadas e os professores precisam estar preparados para debater a temática em questão, fazendo parte deste processo de construção curricular.