Integra

2-06-2014

(para o MPL e para Marcia Gregori)

2010. Poucos dias antes da Copa da África do Sul. Eu, aqui de Sydney, teclando com minha queridíssima amiga Sandra subo neste palco Ali-beberti, ela lá no meu antigo retiro do Embu das Artes. Conversávamos sobre assuntos diversos, quando derrepentemente ela fala,digo, tecla: “aqui esta tudo ótimo, entrando naquele climinha gostoso de Copa…”

Quatro anos se passaram, e agora a Copa chegou ai…Pelo vista, não tem muito climinha ainda, mas já tem um climao…  Melhor do que nada. Por aqui, o clima de Copa é basicamente neutro. Claro, tem mais gente falando a respeito, jornais, mídias sociais, TVs, etc. Mas absolutamente ninguém vai parar suas atividades para assistir aos jogos da Copa… Primeiro, porque a Seleção deles aqui – os Socceroos – não empolga ninguém além dos comentaristas da TV australiana que obrigatoriamente tem que falar deles, encher linguiça com analises táticas e prognósticos sobre o time…”Go the Socceroos”.  Também, porque tudo vai ser na madrugada australiana, os Brazucas aqui vamos ficar de luz acesa, morrendo de frio na madruga, assustando os vizinhos, tomando chocolate quente e gritando… para dar uma animadinha, esta tudo certo para a Veroca vir assistir a final aqui conosco – olha a confiança!

Mas parar escolas? Bancos? Universidades? Tribunais? Bom, tirando aquilo que já esta parado…Ninguém, ninguém mesmo entende o que significa um pais parar por causa de uma Copa, ou de um jogo da Seleção. Há alguns dias, meu querido amigo Bill Murray – autor de, entre outros, “The World’s Game A History of Soccer” e do recem-publicado ‘A History of Football in Australia veio de Melbourne para passar o final de semana em casa. Na verdade, ele veio como convidado VIP da Federação Australiana de Futebol para assistir o ultimo jogo dos ‘Socceroos’ contra a temida África do Sul antes deles irem ao Brasil… e me levou a tiracolo para o camarote vip da Federação, nunca tinha visto nada igual…uma festinha para 300 pessoas antes do jogo começar, em um salão enorme no quinto andar do estádio, com vista privilegiada do gramado, comes e bebes liberados, este pessoal se da muito bem…(o jogo foi um horror, alias, empate em um gol, quase dormimos assistindo). Bom, mas voltando a vaca fria, o Bill, além de divertir as crianças com suas historias fantásticas sobre a Revolução Francesa e outras guerras, contou que em 1994 ele foi assistir a Copa do Mundo…no Brasil! Isto mesmo, ele queria entender isso que todo mundo falava, que o pais ‘parava’ na hora da Copa… Acabou entendendo mesmo, no melhor sentido…quis ir a Biblioteca Municipal do Rio no dia do jogo da Seleção, fazer umas pesquisinhas para os seus livros…Claro que encontrou tudo fechadinho…Em termos etnográficos, foi ótimo, ele finalmente entendeu o que os brasileiros queriam dizer ‘com tudo parar’ – mas ate agora não se conforma com o fechamento de uma biblioteca publica!

De todo o modo, a experiência dos ‘exilados’ durante a Copa é de absoluto ‘banzo’… Pensamos em ‘vai, Brasil!’ – e queremos que tanto a pátria de chuteiras quanto a pátria descalça ‘vão’ mesmo, se deem bem, melhorem… De fato, o que queríamos mesmo seria ver o encontro pacifico e restaurador destas duas pátrias, a ‘com’ respeitando, cuidando e aprendendo com a sem-chuteiras… Acho que não vai ser na Copa que isto vai acontecer – quando?

De longe, muito longe, nos resta torcer na madrugada – um olho no campo, e outro fora dele.
Vai, Brasils!

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* Os menos novos com certeza se lembram da marchinha de Wagner Maugeri e cia

A taça do mundo é nossa
Com brasileiro não há quem possa
Êh eta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom no couro

Por Jorge Knijnik
em 2-06-2014, às 15:54

6 comentários. Deixe o seu.

Comentários

JK, ainda bem que a televisão e a rádio não fecham! Laercio

Por laercio
em 2-06-2014, às 17:14.

Voce que pensa….tudo no auto…

Por Jorge Knijnik
em 3-06-2014, às 1:08.

Eu gosto daquele rugby que se joga aí em um campo circular.
Muitcho doidjo! É super dinâmico e interessnte.

Como chama?

Por Gabriel R.
em 3-06-2014, às 17:38.

Chama Australian Football Rules, mas e’ mais conhecido como AFL, Australian Football League, que obviamente e’ o nome da liga profissional, a maior e mais bilionaria liga de esporte profissional aqui. Media de 50.000 pessoas por jogo, finais dobram. Estava na casa do meu amigo Bill Murray uma vez, numa cidadezinha meio perto de Melbourne, e domingo de manha ele disse – vamos dar uma caminhada e ver os rapazes jogando football: quando la chegamos, jogavam este jogo ai…mas pera um pouco: o que o ‘footy’ esta fazendo no blog da Copa? sai fora, agora queremos futebol! http://historiadoesporte.wordpress.com/2012/04/23/o-nome-de-um-bilhao-de-dolares-ou-a-guerra-do-futebol-por-jorge-knijnik-1/

Por Jorge Knijnik
em 4-06-2014, às 14:25.

:-) Bjks

Por Marcia Gregori
em 27-06-2014, às 15:03.

E olha que a homenageada apareceu! :) jocas e quesos!

Por Jorge Knijnik
em 28-06-2014, às 6:58.