Integra

Introdução

Atualmente fala-se muito na detecção e seleção de talentos, em que uma das ferramentas utilizadas é a Dermatoglifia. A Dermatoglifia, segundo Silva Dantas citado por Seixas da Silva et al. (2005), "caracteriza-se por ser um marcador genético de amplo espectro, para utilização em associação com as qualidades físicas básicas e a tipologia das fibras".

A objetivo principal desse trabalho é demonstrar como a Dermatoglifia pode ser utilizada na escola para a detecção das qualidades físicas e da tipologia das fibras musculares das crianças, correlacionando a analise dermatoglifia com a maturação. A utilização da Dermatoglifia na escola tem uma importância muito grande pelas oportunidades de trabalho que ela cria para o Professor de Educação Física.

A dermatoglifia

"Dermatoglifia é a ciência que estuda o relevo da pele e desenhos da ponta dos dedos, da palma das mãos e da planta dos pés, que revelam características qualitativas e quantitativas" (Fernandes Filho, 1997). Nikitiuk (1984) acentua que os "índices dermatoglíficos se formam no homem no estado intra-uterino a partir de estrato blastogênico entre o terceiro e o sexto mês de gestação e não se alteram durante toda a vida". Pela praticidade da coleta e da analise, utiliza-se o desenho das falanges distal dos dedos das mãos.

Trabalhos realizados pelo Laboratório de Antropologia, Morfologia e Genética Esportiva do VNIIFK - Moscou direcionaram-se para duas linhas de estudo: Uma relacionada as Qualidades Físicas encontradas pela dermatoglifia e a outra visando o tipo de atividade esportiva.
Pode-se dividir os desenhos digitais em três grupos: Arcos (A), Presilhas (L) e Verticilos (W). Esses grupos são responsáveis pela analise qualitativa.

Arco (A) - Caracteriza-se pela ausência de trirrádios ou deltas e se compõe de cristas, que atravessam transversalmente a almofada digital (Fernandes Filho, 1997)

Presilhas (L) - Trata-se de um desenho meio fechado em que as cristas da pele começam de um extremo do dedo, encurvando-se, distalmente em relação ao outro, mas sem se aproximar daquele, onde se iniciam. A Presilha é um desenho aberto e possui um delta (Fernandes Filho, 1997).

Verticilo (W) - Trata-se de uma linha fechada em que as linhas centrais se concentram em torno do núcleo do desenho. Possui dois deltas (Fernandes Filho, 1997).

A analise quantitativa é feita pela Quantidade de Linhas (QL) que é feito em cada dedo, pelo Somatório Quantitativo Total de Linhas (SQTL), que é a soma do QL dos dez dedos das mãos e pelo D10, que é a quantidade de deltas presentes em cada desenho. Os deltas são pontos de encontro de 3 sistemas de linhas, sendo formado por uma bifurcação ma qual as linhas deixam entre si três ângulos semelhantes. Para fazer a contagem do QL deve-se traçar uma linha no desenho da impressão digital partindo do núcleo do desenho indo a direção ao delta e mensurar o número de linhas presentes desprezando a primeira linha partindo do núcleo e a primeira linha do delta. Para se fazer o cálculo do índice de deltas (D10), deve-se fazer o somatório de todos os desenhos, de acordo com a seguinte correlação: Arco sempre igual a "0" (ausência de deltas), Presilha igual a 1 (um delta) e Verticilo igual a 2 (dois deltas), ou seja D10= (L+[2*W]) (Fernandes Filho, 1997).

Analise dermatoglífica

Depois de feita a coleta e a analise dos desenhos das impressões digitais, começa ser feita a analise dermatoglífica correlacionando os desenhos às qualidades físicas e as tipologias das fibras musculares, pré-disposição a maturação tardia.

Quando encontramos em um indivíduo 10 W ou W > L, ele é classificado como um indivíduo aeróbio, ou seja, ele tem uma predominância de fibras de contração lenta. Ao passo que quando encontramos indivíduos com 10 L ou L > W classifica-se ele como sendo anaeróbio, que tem uma predominância de fibras de contração rápida. A presença de 13 ou mais deltas e um SQTL alto indicam uma pré-disposição à coordenação, assim como uma presença maior de D10, SQTL, L ou W indicam que o indivíduo tem uma pré-disposição a maturação tardia. "A presença de A é um elemento indicativo de manifestação de força pura e pré-disposição a uma maturação acelerada" (Alonso et al, 2005).

As Impressões Digitais formam 5 clãs principais que se distinguem pela dominante funcional diferente. Desse modo a intensidade baixa de D10 e a baixa somatória de SQTL se correlacionam com o alto nível de manifestações de força e potência, mas com baixo nível de coordenação e de resistência. E pelo contrário, a elevação do nível de D10 e SQTL em grande medida se correlaciona com o reforço dominante da resistência e da coordenação; os valores máximos de D10 e de SQTL são orientados para a acentuação das qualidades coordenadoras do organismo.

O processo maturacional

"A maturação é um processo que, ao nível biológico consiste em atingir a maturidade passando pelo pico máximo de desenvolvimento, não sofrendo influencias do meio externo, que simplesmente interage com o desenvolvimento do indivíduo. Ou seja, o processo de maturação poder ocorrer independentemente das influências externas, sendo um fenômeno qualitativo que está sujeito ao controle da hereditariedade (genótipo)" (Moreira et al, 2004).

Porém crescer, que significa aumento de tamanho do corpo, aumento progressivo do organismo e de suas partes está relacionado com o processo de maturação biológica apesar de não ser a mesma coisa. Segundo Tanner (1962), "as variáveis que afetem o crescimento físico são: condicionantes genéticos, efeitos da nutrição, diferenças étnicas, efeitos sazonais e climáticos, efeitos de doenças, pressão psicossocial, urbanização, o tamanho do agregado familiar, a posição socio-econômica e a tendência secular". A determinação da maturação biológica pode ser feita de quatro formas, segundo Claessens et al (2000): Maturação sexual, maturação óssea, maturação dentária e maturação morfológica. A maturação sexual, por exemplo, é avaliada da seguinte forma: surgimento de pêlos pubianos e nas axilas, surgimento das mamas e da menarca nas meninas e crescimento das gônodas sexuais masculinas. Mas, por ser uma avaliação muito invasiva ao nível de privacidade, pois seria necessário fazer uma avaliação visual nas crianças, utiliza-se como marcador para os meninos o surgimento dos pêlos nas axilas, que ocorrem por volta de dois anos antes dos pêlos pubianos, e nas meninas utiliza-se a menarca como ponto de partida para a avaliação maturacional. Porém "a maturação esquelética ou óssea é a mais comumente utilizada e segundo Tanner é reconhecida como o melhor indicador isolado de maturidade biológica" (Moreira et al, 2004)

O processo maturacional está relacionado também a fase do estirão, que é o crescimento rápido da estrutura óssea do corpo humano, que serve como indicador da maturação morfológica. Nessa fase do estirão ocorre uma diminuição significativa do nível de coordenação motora do adolescente, ocasionado pelo aumento da sua dimensão corpórea, no sentido longitudinal, mudança do auto-conceito e principalmente porque o cérebro passa por um processo de reformulação onde as conexões nervosas feitas no período da infância são desfeitas e novas conexões são realizadas objetivando as suas utilizações na fase adulta (em caráter definitivo) e, por conta desse processo, o adolescente perde a sua noção de espaço-temporal.

A dermatoglifia na escola e desenvolvimento motor

A nível escolar, a Dermatoglifia tem um amplo raio de ação. Através da analise dermatoglifica pode-se constatar, por exemplo, se a criança tem pré-disposição à maturação tardia ou acelerada, o nível de coordenação motora, que é a grande mediadora das outras valências físicas (Silva Dantas, 2005), dentre outras possibilidades de utilização previamente discutidas. Ou seja, são informações importantes que vão direcionar o trabalho do Professor de Educação Física na Escola, que no Século XXI trabalha cada vez mais com a ciência, seja no desporto ou no trabalho de desenvolvimento motor da criança.

Se durante uma analise o Professor constata que uma determinada criança tem uma predominância de Arcos, ele terá em mente que aquela criança tem um potencial de força explosiva, pré-disposição a maturação acelerada e um baixo nível coordenativo, lembrando que o adolescente tem como um dos marcadores do processo maturacional, a fase do estirão que diminui ainda mais o seu nível de coordenação motora. Sendo assim, ele deverá dar ênfase as atividades que explorem a coordenação motora, e se for levar em consideração o desporto escolar saberá em qual modalidade esportiva ou em qual posição nos desportos coletivos ela terá melhor rendimento. Além de poder trabalhar na criança o fato de que, profissionalmente, ela não terá muita chance, visto que por ela ter um processo maturacional acelerado, a sua idade biológica estará adiantada com relação aos dos outros alunos. Ou seja, biologicamente ela será mais velha e, portanto, terá resultados melhores que os dos colegas nas competições escolares. Porém com o passar do tempo ela será alcançada pelos colegas e ultrapassada por alguns, e para a criança isso é muito complicado. Um dia ela é a melhor competidora que a sala ou que o colégio tem e no futuro ela não será mais a melhor, afetando assim a sua auto-estima. Se isso não for muito bem trabalhado com a criança, pode-se perder um possível atleta e, principalmente, um futuro praticante de atividade física. "Os sucessos e os fracassos da infância podem parecer remotos e sem significado para nós, no presente, mas foram eventos importantes que influenciaram o que e quem somos hoje. Muitos desses eventos centralizaram-se nas primeiras experiências com brincadeiras" (Gallahue, 2003).


 Conclusão

Cada vez mais o princípio da individualidade biológica é indicado no cotidiano da Educação Física Escolar.

A Psicomotricidade tem um fator importantíssimo na formação do futuro atleta, porque ele utilizará na sua performance todo o vocabulário motor obtido durante a sua infância. Quanto maior for a quantidade de estímulos dados a ele quando criança, melhor será o seu rendimento na fase adulta. Sem contar que a prática exercícios físicos aumenta o seu auto-conceito, que está diretamente correlacionada ao seu desenvolvimento motor (Seixas da Silva et al, 2005). Não podendo esquecer que todos os seres humanos possuem duas idades diferentes: a cronológica e a biológica. Sendo assim, essa detecção por meio da Dermatoglifia possibilita uma escolha melhor da metodologia de trabalho por parte do Professor de Educação Física Escolar.

Respeitando as diferenças e sabendo trabalhar as valências e habilidades específicas de casa um, principalmente trabalhando a Coordenação Motora que é a grande mediadora das demais valências físicas, o Professor de Educação Física consegue formar mais do que atletas, forma cidadãos bem preparados para a vida.

Obs: Os autores Ignácio Antônio Seixas da Silva (seixas ignácio@yahoo.com), Paulo Moreira Silva Dantas e Marizete Firmino Mattos são da U. Estacio de Sá (Niterói) e pertencem aos Laboratórios de Fisiologia do Exercício - LAFIEX e de Práticas Pedagógicas - LAPP.

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