A Criação de Jogos no Contexto Escolar
Por Elvina de A. Mangabeira (Autor).
Em VIII EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar
Integra
Introdução
Este trabalho está sendo desenvolvido desde 2003, em uma escola municipal do Rio de Janeiro, com turmas de 5ª a 8ª séries, com o intuito de desenvolver o potencial criativo do educando, ampliar sua visão de mundo, trazer para dentro da escola sua cultura corporal e incentivá-lo a desenvolver a sua capacidade produtiva, levando-o a perceber que não basta receber passivamente informações, que precisam trabalhá-las, vivenciá-las, para que se tornem conhecimento.
A criação de jogos desafia o aluno a se superar, mesmo que no início não se sinta à vontade, aos poucos vai se envolvendo com a proposta e busca em suas experiências subsídios para construir sua concepção de jogo. Passa a se sentir dono daquela idéia, ou seja, percebe que está no domínio do processo, mesmo que esteja trabalhando em um pequeno grupo. É neste estágio que se explica ao educando através de conversas informais, que ele também pode dominar todo seu processo de aprendizagem, pois o mesmo envolvimento, interesse e participação efetiva são necessários às outras disciplinas.
A culminância é feita com a demonstração dos jogos criados para pais e responsáveis e com o lançamento do "livrinho" destes jogos em uma manhã/tarde de autógrafos. Isto consolida a produção intelectual dos alunos, fazendo-os vivenciar os resultados práticos de seus esforços agora e não em um futuro longínquo. As ilustrações e textos também são produzidos por eles que, normalmente, buscam o auxílio dos professores de artes e de português. Um exemplar deste livrinho passa a fazer parte do acervo da biblioteca da escola, prolongando no tempo o sucesso obtido, para que seja estímulo em seu futuro e no futuro de outros. Assim, a auto-estima de cada aluno se eleva, aumenta sua confiança em buscar ajuda, em expor suas dificuldades e passa a ter maior significado As Aulas para ele pois percebe-se capaz de vencer etapas, dificuldades e desafios.
Metodologia
Este tema é desenvolvido no terceiro bimestre, os objetivos dos bimestres anteriores visaram desenvolver, principalmente, organização e disciplina, necessárias em qualquer processo de construção.
No primeiro bimestre é trabalhada a organização, a disciplina e a responsabilidade. Organização pessoal para estar no local certo, na hora certa e da forma certa; a organização individual no grupo, e a organização do grupo como um todo; a disciplina em seguir os acordos feitos com a turma , pela própria turma e a responsabilidade pelas conseqüencias, boas ou não, das atitudes pessoais ou do grupo. Além da responsabilidade das escolhas pois, neste bimestre, são eleitas pela turma, duas atividades para serem trabalhadas.
No segundo bimestre são mantidos os objetivos anteriores porém, aplicados de forma diferente. Neste período os grupos se refazem e cada um escolhe uma atividade para adaptar às condições da escola (que não tem quadra, apenas dois pátios estreitos, compridos e com pequeno declive e pouquíssimo material). Ao fim deste bimestre é feito um torneio interno da turma com as atividades adaptadas.
No terceiro bimestre, os alunos já estão bem organizados e o desafio é lançado. Para as 5ª e 6ª séries é pedido que transformem uma atividade conhecida, de forma que fique muito diferente da original - muitas vezes criam um jogo novo, vão além da proposta. Para As 7ª e 8ª séries a proposta é a criação de uma atividade física totalmente nova, partindo de uma base conhecida.
O quarto bimestre é destinado a um torneio interno ou inter-turmas ou, ainda, a um festival de demonstração das novas atividades, conforme a opção dos alunos. Os alunos participarão da organização se quiserem, mas serão eles a expor para os participantes a dinâmica e regras do novo jogo. Isto desenvolve a capacidade de expressão e comunicação do educando e o reafirma como autor daquela atividade.
Oportunidades Educativas
A criação de um jogo ou de uma nova forma de jogar por si só traz dificuldades, as quais vão se renovando a cada etapa da tarefa. Isto requer do aluno grande envolvimento e motivação para resolvê-los à medida que surgem, mostrando-lhe pela seqüência das ações que existe uma ordem natural para o desenvolvimento do que quer que seja. Este é um aprendizado que somente a vivência traz. A cada problema encontrado, o aluno exercita-se em discutir com os colegas as possíveis soluções, isto requer, antecipadamente, o uso da imaginação e da abstração, pois só depois de vislumbrar um caminho é que poderá debater com os outros. Até aqui muito trabalho está sendo realizado: raciocínio lógico, imaginação, abstração, socialização - apenas até aqui.
Para escolher a atividade base inicial do trabalho, o aluno busca em suas experiências subsídios (a maior parte dessas atividades foram adquiridas na primeira etapa do ensino fundamental, como os piques, pára-bola, amarelinha) - ou seja - resgata seu acervo de conhecimentos e experiências para apoiar-se, resolver problemas e construir uma nova realidade - o jogo. Aqui começam a desenvolver a consciência de que suas experiências, vivências, concepções são inerentes a seu futuro; ensinando-lhes a buscar no conhecido meios para vivenciar uma situação nova e ir além, projetar um objetivo e definir as etapas para conquistá-lo, sabendo que, o que está estabelecido pode ser modificado, compreende que o futuro é construído, no presente, com o apoio dos conhecimentos adquiridos.
Cada atividade criada, por mais simples que seja, é para seus criadores objeto do maior carinho e, desta forma, querem que seja aceita e apreciada. Começam a ter contato, nesta etapa, com as críticas, as quais nem sempre bem colocadas que os fazem compreender a importância do respeito ao outro; esperam que os colegas de turma pratiquem-na, compreendendo a importância da colaboração e da participação de outros para sua valorização e, para que esta participação seja tranqüila, descobrem a real importância das regras e de sua observância, tanto para a prática da atividade como para a boa convivência social.
O último desafio deste processo é o registro e apresentação à turma de seus resultados; cada grupo produzirá um texto contendo a explicação da atividade e suas regras.
É um esforço que não deve ser desprezado. O aluno percebe-se criador e no domínio do processo. Compreensão que pode ser expandida para que tenha consciência que também está no domínio de seu processo de aprendizagem; que vivenciando as informações, seja através de um exercício intelectual, artístico ou físico, é que as compreenderá de fato, as quais passarão a ter um real significado.
O Aumento da auto-estima, do interesse em buscar conteúdos e da segurança em se expor, abre novas possibilidades na vida do educando.
Conclusão
Não retendo o aluno em atividades físicas não renovadas e colocando-o em ação para que interfira no que já está estabelecido, possibilitando-o transformar para construir uma nova realidade, aceitando seus resultados e o valorizando como Ser humano, contribuímos para a sua auto-valorização e para seu desenvolvimento integral, apontando-lhes caminhos para que construa seus valores e atitudes e obtenha uma forma mais positiva de olhar e interagir com a sociedade em. que vive.
A autora, Elvina de A. Mangabeira ,é Especialista em Educação Física Escolar (UFF) e professora da Escola Municipal Deodoro (Rio)
Referências Bibliográficas
- Taffarel, Celi N. Zülke. Criatividade nas aulas de Educação Física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico,1985.
- Antunes, Celso. Jogos para estimulação das múltiplas inteligências. Petrópolis: Ed. Vozes, 1998.
- Escâmes, José Luis Marqués. Iniciação nos jogos e esportes alternativos. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1998.