Resumo

Ao longo do tempo e com maior rapidez no final do século XX, as paisagens educacionais foram se transformando na tentativa de corresponder às novas demandas do mundo contemporâneo, suscitadas também pelas proposições oficiais, sobretudo, a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, em que novos paradigmas curriculares foram postos. No caso do componente curricular Educação Física, o diálogo com as Ciências Humanas e os questionamentos das teorias críticas iniciados na década de 1980 foram ampliados com as contribuições das teorias pós-críticas, o que possibilitou novos olhares para a prática pedagógica. Emergiu daí uma nova função social para a área, distanciando-se do entendimento do movimento corporal psicologicamente fundado e aproximando-se da gestualidade culturalmente construída e portadora de significados, ou seja, uma forma de linguagem. É nesse contexto que a expressão cultura corporal passou a ser veiculada na maioria das proposições curriculares oficiais elaboradas pelos Estados da Federação, podendo transmitir a impressão de algum consenso sobre o seu sentido e, consequentemente, sobre a concepção de Educação Física a ser ensinada. A tentativa de entender este consenso nos levou a investigar os significados atribuídos à expressão cultura corporal presentes nas propostas curriculares oficiais. Pautados no campo dos Estudos Culturais e na teorização curricular, os documentos oficiais foram submetidos à análise da Ordem do Discurso. Após a análise dos resultados, é possível afirmar que os discursos sobre cultura corporal nas propostas curriculares estaduais de Educação Física no Brasil estão sempre relacionados à tentativa da área e por que não da instituição escolar atender às demandas do século XXI, e são os mais variados possíveis, desde uma sugestão de transformação e qualificação da prática pedagógica como também de proposição de continuidade do mesmo. A investigação nos mostrou que a apreensão e utilização do termo cultura corporal pela área de Educação Física deve ser realizada com certa cautela, pois nem sempre há clareza acerca da concepção de cultura adotada. Outra constatação são as divergências entre embasamento teórico e orientações didáticas presentes em alguns documentos. Em relação aos conteúdos arrolados em algumas propostas curriculares, verificou-se que o termo cultura corporal conota o simples desenvolvimento de jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças. Por fim, as análises realizadas apontam a necessidade de maior compreensão da função social da Educação Física a partir do diálogo com as Ciências Humanas para que haja, efetivamente, uma transformação da prática pedagógica. 

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