Resumo

O problema de pesquisa, ora em evidência, foi elaborado a partir da questão de partida, sobre quais as possíveis relações entre a cultura do fandango enquanto manifestação da cultura popular e os mundos do trabalho e do lazer para seus praticantes, no litoral do Estado do Paraná. Dessa forma, diz respeito mais profundamente, à complexa, rica e contraditória cultura do fandango, enquanto manifestação da cultura popular, tratando-se de um recorte sobre as possíveis aproximações entre trabalho, cultura popular e lazer. Observei no grupo investigado, um cotidiano fortemente centrado na sobrevivência, com base principalmente nas relações de troca com a realidade social. Suas relações sociais e culturais que num passado próximo ainda não se encontravam totalmente centradas nos valores do mundo do trabalho urbano, hoje se colocam influenciadas pelo modo capitalista de produção e, dessa forma, apresenta-se, substancialmente alterada, a materialidade de sua vida cotidiana. Nesse sentido, me propus a analisar criticamente as possíveis formas de exploração do capital nesses meandros e, conseqüentemente, as prováveis alterações, que se reverberam na cultura do fandango no campo de investigação sob os aspectos do tempo passado e do tempo presente. Nessa perspectiva os elementos teórico-metodológicos que embasam a pesquisa, trazem em seu bojo reflexões epistemológicas a partir da concepção marxiana de sociedade. Para tal, baseio-me no próprio Karl Marx e em autores marxistas da sociologia da vida cotidiana, tais como: Agnes Heller e Henry Lefebvre. Assim, utilizando a relação entre trabalho, cultura popular e lazer, observei nos sujeitos-fandangueiros, as implicações diretas e indiretas perante o poder de exploração do capital, bem como as manifestações de resistência e/ou conformismo, com base nos interesses exercidos pela cultura de massa e pela indústria cultural. Finalmente, os resultados provisórios desta pesquisa indicam que a cultura do fandango, principalmente do tempo passado, se evidenciou de forma a confrontar-se com os interesses que a indústria cultural e cultura de massa exercem sobre a cultura popular. No entanto, o fandango da atualidade não tem apresentado movimentos de resistência explícitos. A cultura do fandango em si se apresenta como a soma de todos os aspectos da vida humana, não separando o trabalho, lazer, religião, educação, etc., de sua estrutura, e, desta forma, ao separá-los, não deveria mais ser compreendida como cultura popular, mas sim, uma aproximação com o que Marilena Chauí denomina de cultura do povo.

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