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Para mim, uma das cenas mais marcantes dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, foi a disputa pela medalha de bronze de Diogo Silva, no taekwondo. Depois de sofrer uma lesão, durante a competição, o juiz determinou o fim da disputa por considerar que o atleta brasileiro não tinha condições de prosseguir. Indignado com aquela decisão Diogo tentou de todas as formas prosseguir com o combate. Queria ter o direito de chegar à medalha que lhe faltava, mas o árbitro manteve sua decisão. Durante a entrevista Diogo Silva disse que ele queria aquela medalha porque sem um resultado positivo ele seria esquecido, muito embora sua performance fosse uma honra para o esporte brasileiro.

O tempo passou e Diogo não foi esquecido. Estou aqui falando sobre sua história a partir de uma perspectiva comum a vários atletas: a possibilidade concreta da derrota e as consequências de um resultado adverso.

Poucos são aqueles no meio esportivo que entendem a diferença entre perder e ser derrotado. A conquista da medalha e a cena do pódio tem o poder mágico de sintetizar um momento de celebração e dor. O primeiro colocado será sempre o feliz da história. A celebração do segundo e do terceiro dependerá de como a derrota será entendida: perdeu-se para alguém a melhor colocação ou mesmo tendo feito o melhor de si, isso não foi suficiente para superar aquele que ficou um degrau acima.

O pódio foi uma invenção para dar destaque a esse momento especial. Porém, o mundo da competição esportiva é feito de outras dezenas, senão centenas, de atletas habilidosos que por alguma razão, naquele momento exato da disputa, não alcançou o seu ápice. Ou ainda, teve próximo a si alguém melhor, que vivenciou a plenitude da perfeição.

É por isso que muitos atletas que ficaram em quarto, quinto, sexto ou sétimo lugares são esquecidos. Fora do pódio seus resultados são menosprezados e sua memória é abandonada. Entretanto, vestígios desse caminho são deixados aqui e acolá e com o tempo eles são resgatados dando aos protagonistas o devido merecimento. E assim, permanecem na história o 5º lugar de Piedade Coutinho, na natação, de Sylvio de Magalhães Padilha, nos 400 metros com barreira ede  José Salvador Trindade Mello, na carabina deitado, nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, e de Geraldo de Oliveira, no salto triplo, em Londres, em 1948. Como esquecer o 4º lugar de Ary Façanha no salto em distância, em 1952, nos Jogos de Helsinque, mesma marca de Aída dos Santos no salto em altura, no Japão, em 1964, quando foi a única mulher da delegação brasileira naquela edição olímpica.

Essa semana as meninas do futebol brasileiro foram eliminadas da Copa do Mundo depois de um jogo memorável contra a França. Poucos se lembrarão das dificuldades vividas antes da competição e do desprezo da CBF para com o futebol feminino. Junto com a derrota no torneio virá o esquecimento de um time valente, que, como sempre, enfrentou tudo, principalmente o preconceito, muito embora uma atleta tenha quebrado todos os recordes de gols em Copa.

Mas, o esporte é assim.

Por isso gostaria de registrar o 5º lugar de Ninna Cardoso Silvestre, na competição com facão no 8º Campeonato Mundial de Kung Fu, realizado na China, nesse último mês. Ninna superou em menos de um ano 5 cirurgias no cotovelo e a falta de recursos que assola o esporte brasileiro nesse momento. Fez vaquinha para viajar, vendeu doces na Praça da Sé e fez o seu melhor. Assim como olímpicos do passado, esse resultado também não será esquecido.