Editora Perspectiva. None 2010. 200 páginas.

Sobre

Em A Dramaturgia da Memória no Teatro-Dança, Lícia Maria Morais Sánchez, bailarina, professora e pesquisadora, vai ao fundo de um tema que hoje figura na pauta das discussões mais palpitantes e atuais da criação artística, em suas diferentes manifestações e, principalmente, no teatro: em que medida memória e vivência se compõem com a invenção estética na geração e formalização da obra de arte para a cena e em cena? Esta indagação é, sem dúvida, parte de uma revalorização que recebeu seu impulso fundamental das recentes buscas e interesses das ciências humanas. O que acontece na história, na sociologia, na antropologia, na psicologia e nos estudos sobre os meios de comunicação provam-no sobejamente, e o seu impacto faz-se sentir, particularmente, no teatro, tanto em sua versão formal e tradicional, que o tem incorporado até certo ponto em suas encenações, quanto em sua expressão vanguardeira, que o assume abertamente com suas releituras, desconstruções e, mais aguda e provocadoramente, em suas performances e “eventos”, dos quais o teatro-dança é uma vívida realização desde Pina Bausch. É nessa indagação explícita e em sua experiência no palco que a autora deste estudo vai buscar o alento filosófico e metodológico de sua proposta. Um de seus focos é, sem dúvida, o processo criativo na arte e os valores que podem fecundá-lo, em termos de sensibilidade, flexibilidade, fluência, originalidade; o outro, que é a sua contrapartida, concentra-se no poder analítico e sintético, na riqueza formal, na coerência organizacional e na força sugestiva da linguagem poético-cênica, materializados no corpo do ator, que lhes infunde a exclusividade de seu gesto interpretante e significativo. Neste rol, figuram, inclusive, os produtos da memória, como fertilizantes de ações significativas na relação e transmissão de vivências, problemas e configurações espirituais capazes de compor um espetáculo e esculpi-lo identitariamente ao vivo para uma recepção pública.