Resumo

A partir do Renascimento, observa-se um processo de interpretação e canonização de Aristóteles, “aristotelismo” (ROUBINE, 1998), que aos poucos fixou certo modelo normativo para a prática dramatúrgica europeia, chegando-se, nos séculos XVIII-XIX, ao paradigma do "drama absoluto" (SZONDI, 2001). Esse modelo canônico se caracteriza pelo diálogo entre os personagens, pelas unidades de ação, tempo e espaço e pelo conflito intersubjetivo, isto é, entre sujeitos-personagens. E com a chamada “crise do drama” (SZONDI, 2001) no final do século XIX, inicia-se um outro processo, também longo e não-linear, de ruptura com esse cânone do gênero dramático através da exploração de "desvios épicos e líricos" (SANCHES, 2016), ora sutis ora mais radicais. Uma das principais transformações na escrita dramática moderno-contemporânea diz respeito à presença do conflito intersubjetivo, que tende a perder foco com a epicização e o lirismo do drama. Entretanto, entendendo a intersubjetividade (relação entre indivíduos) como apenas uma possibilidade de pulsão de conflito, propõe-se a ideia de se pensar em mais duas pulsões: "intrassubjetiva" (o indivíduo em relação consigo mesmo) e "extrassubjetiva" (o indivíduo em relação com o meio: questões sociais, culturais, ambientais etc.). Desse modo, investiga-se a hipótese de o conflito servir como uma ferramenta útil tanto para análise como para criação cênico-dramatúrgica. Tal investigação é primeiramente realizada, no presente trabalho, através de uma exposição teórica e, em seguida, através do uso dos conceitos abordados sobre conflito para análise do processo de escrita e montagem da peça Dentro, montada no departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília.

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