Integra

Falar sobre o corpo nos dias de hoje pode até ser considerado como um fato corriqueiro, sobretu-do, quando questões que envolvem seu bem-estar, sua aparência e o cuidado com o mesmo, entre outras coisas, colocam-no como sendo o centro das atenções. Todavia, esta pesquisa visa discutir, fundamentalmente, questões que envolvem for-mas de se educar esse corpo de que tanto se fala, partindo, para tanto, daquelas classicamente de-senvolvidas pela Educação Física, a fim de adentrar o universo das que a elas se apresentam como uma "alternativa", contrapondo-se, ao menos numa pri-meira leitura, aoconteúdo por ela desenvolvido. Ou seja, pautando-se em expressões, tais como: "o corpo é um todo": "tomada de consciência do corpo", as práticas corporais alternativas delineiam sua forma de educação do corpo, propondo - contra o automatismo e repetição extenuante dos gestos -, o prazer, a conacientização do corpo, valendo-se de "movimentos suaves e precisos" que ajudariam a "soltar os músculos" e a liberar uma energia até então desconhecida, 

Nitidamente percebíamos, ao longo dos anos 80 e inicio dos anos 90, que, visando a atender a diferentes demandas, as formas de se educar o corpo eram as mais variadas possíveis. Foi assim que nos interessamos em averiguar, mais detida-mente, quais eram essas práticas corporais alter-nativas que vinham ganhando força no âmbito da Educação Física, quais seus objetivos, princípios, referenciais, dedicando-nos, ao contrário de mui-tas, a uma só, àquela que quer pela grande divulga-ção de textos ou pela provocante contraposição à Educação Física explícita em seu próprio nome, se fazia mais expressiva: a Antiginástica de Thérese Bertherat. 

Esta pesquisa, portanto, é resultado de uma leitura crítica das obras de Thérèse Bertherat, "cineseterapeuta" responsável pela criação da Antiginástica, prática corporal alternativa que visa a uma integração entre o 'psíquico" e o "somático", a partir da conacientização do "somático".

Procurando ilustrar o lugar ocupado pela Antiginástica no vasto "mundo corporal" e a forma pela qual Thérèse Bertherat vai construindo suas bases a caminho de uma, digamos, teoria do corpo, esta pesquisa divide-se em duas partes; na primei - ra, adentramos pelo universo da Antiginástica revelando como esta arquiteta-se desde sua ori-gem, mencionando seus objetivos e evidenciando os contatas de Bertherat com outros trabalhos rumo à construção de uma "terapia global" capaz de tratar do indivíduo de "modo completo", tal qual ela nos apresenta. Na segunda parte, ao procurar-mos  revelar as bases sobre as quais Bertherat se apoiou, pautamo-nos na teoria de Wilhelm Reich, autor principal no caminho das apropriações bas-tante discutíveis de que faz uso Bertherat, funda-mentalmente naquilo que lhe serviu para explicar um dos pressupostos básicos da Antiginástica, de que é a estrutura "somática" que determina o comportamento 'psíquico" do indivíduo. A partir dos principais conceitos da teoria reichi an procu-ramos discutir a forma pela qual Rertherat os incorpora à sua Antiginástica, acentuando, algu-mas vezes mais enfaticamente, alguns pontos, os quais, sem dúvida, merecem maior atenção na análise dessa "prática corporal alternativa", cujo intuito principal reside na edificação de uma forma de se pensar o corpo, isto é, numa tentativa de construção de unia teoria do corpo cuja preocupa-ção central estaria em educá-lo, integrando-o, so-bretudo ao "psíquico", contrapondo-se a outras formas de educação do corpo existentes atualmen-te, dentre as quais estão as historicamente desen-volvidas pela Educação Física: a ginástica e o esporte. 

Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Estudos Pós-graduados em Educação: História e FaU84)1111 d i Educaçao da PUC/SP, no dia 06108,96, sob a orientação do Prol". Dr. Paulo Ghiraldelli Júnior, Professora de Educação Física da Escola Técnica Federal de São Paulo.

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