A Educação do Corpo e Saúde: os Usos de Um Espaço Público na Cidade de Vitória-ES
Por Lucas Poncio Gonçalves Pereira (Autor), Ivan Marcelo Gomes (Autor).
Em XX Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e VII CONICE - CONBRACE
Resumo
Na atualidade tem-se disseminado o discurso sobre o estilo de vida saudável em diferentes espaços sociais que se apoiam em aspectos referentes a prevenção e a promoção da saúde, incorporadas nas políticas públicas no âmbito do esporte, educação, saúde e lazer. Esses diferentes dispositivos e discursos compõem um conjunto de biopolíticas contemporâneas (GOMES, VAZ, ASSMANN, 2014).
Neste estudo analisamos as apropriações realizadas por frequentadores de uma praça pública na cidade de Vitória/ES relacionadas aos usos de equipamentos públicos de saúde (uma APPI – Academia Popular da Pessoa Idosa) e de lazer (uma cancha de bocha). O argumento central de nossa pesquisa é o de que nas apropriações e usos deste espaço público exista uma intersecção entre pretensões científicas e uma cruzada em nome de um estilo de vida “correto” e que atravessam diferentes gerações e classes sociais.
Entendemos que a temática desta pesquisa circundas as diferentes estratégias na atualidade relacionadas ao cultivo do corpo saudável. Variadas são as preocupações, como também distintos são os espaços nos quais elas transitam, como é o caso da praça pública que é o foco desta pesquisa.
A investigação está sendo conduzida na praça Aníbal Antero Martins, localizada no bairro Jardim da Penha – Vitória/ES. No tocante aos aspectos metodológicos, este estudo parte de uma abordagem qualitativa. Seu foco essencial está em conhecer os traços característicos do objeto, as pessoas envolvidas, o espaço, os valores, os problemas etc. (GOLDENBERG, 2007). Como o que está em análise são práticas culturais, optamos pela realização de um trabalho de “campo”, utilizando estratégias que são identificadas nos estudos etnográficos (GEERTZ, 1989).
No que diz respeito aos instrumentos para produção dos dados utilizamos os seguintes recursos: observação participante (materializada em registro nos diários de campo) e fotografias.
Os dados produzidos no campo estão sendo interpretados a partir de uma revisão da literatura sobre a temática realizada nos principais periódicos do campo da Educação Física.
Antes de partir para a análise dos indivíduos que frequentam a praça, optamos por realizar uma descrição geral dos seus espaços, através do diário de campo e fotografias. A praça é ocupada por uma Igreja Católica, uma APPI, uma cancha de bocha (administrada pela Associação dos Bocheiros e Canastreiros), um parque infantil, uma banca de revistas, uma estação de tratamento de água e assentos de madeira e cimentado.
Após o primeiro contato com os referidos espaços, partimos para observação dos frequentadores, especificamente na APPI e na cancha de bocha. Durante este período observamos que o número de usuários da cancha supera o número de frequentadores da APPI em todos os turnos, principalmente nas sextas-feiras, a partir das 18 horas.
Tal aspecto deve-se ao fato de que na cancha de bocha também funciona um bar que disponibiliza jogos de baralho, dominó e TV para os frequentadores, em sua grande maioria, idosos do sexo masculino.
Já a APPI disponibiliza sete aparelhos e um mural de orientação com exercícios de alongamento e fortalecimento da musculatura geral. Os usuários, geralmente homens e mulheres adultos, exercitam-se rapidamente. Verificamos que não há serviço profissional de orientação e não foram encontrados meios de incentivo para o uso dos equipamentos.
Identificamos com as observações no campo que o equipamento de lazer (jogos de baralho/dominó, pista de bocha, bar e TV) pode ser caracterizado como um espaço potente de sociabilidades entre os frequentadores. Diferentemente da APPI que, apoiada no discurso da vida saudável, aparentemente, não apresenta a mesma potência na produção deste "estar junto", materializando-se na pouca utilização deste equipamento de saúde.