A Educação Física e as Práticas Corporais no Ensino Médio: Visão da Legislação e dos Professores
Por Camila Neves Corrêa Marques (Autor).
Integra
BRASIL (2006) diz, através das Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) que a Educação Física deveria ser lugar das práticas corporais no processo educativo, isto é, desenvolvimento estético e sensível dos movimentos corporais que retratam o mundo em que vivemos, com seus valores culturais, emoções e maneiras diferentes de intervir na realidade social. Consideram, ainda, que um dos papéis da Educação Física seja o de compreender e discutir junto aos jovens os valores e significados que estão por trás de suas práticas corporais marcadas por diferentes situações e condições sociais, econômicas, morais, culturais, religiosas e étnicas. A nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008), para a disciplina de Educação Física, discursa que a finalidade da Educação Física deve ser repensada e sua ação educativa, transformada, segundo um enfoque cultural, isto é, levando em conta as diferenças culturais manifestadas pelos alunos em certos contextos. O presente trabalho visa realizar uma análise da nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a disciplina de Educação Física. Foram realizados: pesquisa da legislação vigente que regulamenta o país e a educação nacional, revisão bibliográfica relacionada ao tema e entrevistas semi-estruturadas com professores da rede estadual do Ensino Médio, cujo tratamento se deu por meio do método de análise de conteúdo proposto por Bardin. Nota-se a desigualdade na distribuição de conteúdos, privilegiando o eixo Esporte. As modalidades esportivas sugeridas pela proposta fazem passar por "currículo comum" a cultura do grupo dominante - cultura branca, masculina, européia e heterossexual (ex: voleibol, basquetebol, handebol, rúgbi, badminton, ginástica rítmica, ginástica artística, besebol etc. O currículo deve incluir uma amostra mais representativa das contribuições dos grupos dominados. Seu discurso caminha na direção de uma valorização cultural local, regional, nacional e internacional, no entanto, na prática, ocorre a valorização, ou a manutenção dos conhecimentos da cultura dominante vigente, sendo condescendente em permitir alguma manifestação da cultura juvenil, sem dar a elas um trato pedagógico aprofundado, como ocorre quando se aborda alguma modalidade esportiva. Os alunos seguem sendo receptáculos de informações, segundo o conceito de educação bancária d Paulo Freire, pois não se dá a chance deles se organizarem e reinterpretarem sua rópria cultura, negando espaço privilegiado para formação de cidadãos autônomos, independentes e conscientes de ser um indivíduo social. Assim, a nova Proposta não é adequada, servindo apenas para organizar o que já existe, pois ainda apresenta uma única forma de cultura a ser veiculada no Ensino Médio. Diante da riqueza de práticas e manifestações culturais da cultura corporal existentes, escolheram, de forma hegemônica, alguns conteúdos em detrimento das manifestações culturais que são produzidas e consumidas pelos alunos.