Resumo
O Brasil tem vivenciado um período de incertezas e retrocessos nos direitos e conquistas da comunidade LGBTQIAPN+. Esse cenário é marcado pela desigualdade de condições na perspectiva de gênero e pelos embates políticos que, muitas vezes, reforçam discursos conservadores, dificultando avanços na garantia da diversidade sexual. No entanto, é importante destacar que, apesar desses retrocessos, há uma contínua resistência em defesa dos direitos dessa comunidade. No contexto escolar, onde o acolhimento deveria ser um princípio fundamental, persistem ações de discriminação, intolerância e preconceito, tornando o ambiente hostil para essa comunidade. O objetivo deste trabalho foi investigar as percepções sobre a Educação Física Escolar entre estudantes LGBTQIAPN+ que concluíram recentemente o Ensino Médio em um município do interior de São Paulo. A pesquisa buscou compreender suas experiências, desafios e expectativas. Para isso, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com sete egressos(as) de uma escola pública da rede municipal de Matão-SP. As entrevistas, compostas por trinta e três questões, envolveram participantes com diferentes orientações sexuais e identidades de gênero. Os dados foram analisados pela abordagem de Análise do Fenômeno Situado. Os resultados apontam três categorias principais. A primeira revelou que a hegemonia esportiva na Educação Física contribui para a exclusão de alunos(as) LGBTQIAPN+, reforçando estereótipos e limitando a diversidade de práticas esportivas. O predomínio de modalidades tradicionalmente masculinas e a organização das atividades por gênero geram marginalização, insegurança e receio de julgamento, tornando o ambiente excludente. Esse cenário reforça a necessidade de revisão das práticas pedagógicas e da valorização da diversidade para construir um espaço mais seguro e equitativo. A segunda categoria demonstrou que o diálogo aberto entre professores(as) e colegas pode reduzir o preconceito e promover um ambiente mais acolhedor. No entanto, desafios como a falta de preparo docente, a ausência de discussões formais sobre diversidade e a necessidade de mudanças estruturais nas práticas pedagógicas mostram a urgência de ações concretas para garantir um ambiente mais justo e inclusivo. Por fim, a terceira categoria destacou que, apesar de alguns avanços, como professores(as) mais inclusivos(as), as mudanças ainda ocorrem lentamente. Barreiras como preconceitos, resistência cultural e a falta de suporte dificultam a inclusão. Além disso, a participação de alunos(as) LGBTQIAPN+ nas aulas de Educação Física frequentemente depende do desempenho esportivo, limitando a inclusão efetiva. Para superar essas barreiras, os participantes sugerem diversificar atividades, realizar debates entre professores(as) e ações de sensibilização. A inclusão exige não apenas adaptações pedagógicas, mas também uma mudança cultural no ambiente escolar, para que todos se sintam valorizados e respeitados. O estudo revelou que, apesar dos avanços, normas heteronormativas ainda dificultam a inclusão, ressaltando a necessidade de capacitação docente, desconstrução de estereótipos e estratégias pedagógicas mais acolhedoras. Reforçamos a importância de repensar a Educação Física como um espaço inclusivo, fundamentado em práticas que respeitem a diversidade de gênero e sexualidade