A Educação Física nas Conferências (im)populares da Glória: 1870-1879
Por Laryssa Rangel Guerra (Autor), Yuri Santos de Menez (Autor), Felipe Lameu dos Santos (Autor).
Em XV Congresso de História do Esporte, Lazer e Educação Física - CHELEF
Resumo
No final do século XIX, sob a ótica de um Rio de Janeiro que buscava se consolidar como um grande centro socioeconômico em ascensão, surgiu como uma estratégia para alcançar tal objetivo, locais de sociabilidade e lazer no espaço público (SENNET, 1999), como foi o caso das Conferências Populares da Glória, que emergiram como espaços voltados ao debate de assuntos considerados pertinentes por parte das elites letradas. Em meio a sua pluralidade de temas discutidos, encontrava-se a educação física. Em vista disso, nesse trabalho, a documentação tornada fonte do conhecimento histórico (LARA, 2008) foram as preleções publicadas no periódico Conferências Populares e em outros impressos. Sendo assim, inclino-me a compreender como era entendida a educação física nesses encontros, no cenário da Corte no período entre 1870 e 1879, bem como os possíveis interesses que envolviam tal corpo social. Em concordância com os documentos pesquisados, é possível notar que a educação física já era citada, no entanto, ocorreu uma maior frequência para a ocorrência da hygiene escolar, pautada no cientificismo e vista como um meio de se obter e garantir a educação física no infância (GABIZO, 1976). Outra missão da higiene era extinguir a ideia antagônica presente na relação corpo-mente, nesse sentido, ambas deveriam ser vistas como complementares (GABIZO, 1874). Dado a necessidade da construção de uma identidade nacional, de um espírito nacionalista, de homens que estariam prontamente dispostos (no âmbito físico e mental) a honrar e defender o seu país. Outro ponto interessante diz respeito ao termo popular atribuído à essas preleções. De acordo com Fonseca (1996), as conferências eram limitadas a um público previamente selecionado. Uma maneira de constatar tal afirmação é a fala de um dos principais conferencistas, Ferreira (1874), na qual o mesmo expõe que a tribuna das conferências estava sendo ocupada por “espíritos ilustres”. Em suma, as Conferências Populares da Glória de fato contribuíram para esse momento de criação de espaços dedicados à sociabilidade no Rio de Janeiro. Por mais que a mesma opusesse algumas dúvidas quanto à sua abrangência ao público, elas promoviam a reunião e encontro de indivíduos para discutirem assuntos pertinentes à época. E além do mais, se conformava como um ambiente importante na qual ocorreram reflexões e discussões acerca da educação física e da higiene escolar.
Referências
FERREIRA, M. J. Instrução Pública. Conferências Populares. 12 de Abril de 1874.
FONSECA, M. R. F. da. “As 'Conferências Populares da Gloria': a divulgação do saber científico”. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 135-166, 1996.
GABIZO, J, P. Hygiene Escolar. Conferências Populares. 27 de Fevereiro de 1876.
LARA, S. H. Os documentos textuais e as fontes do conhecimento histórico. Anos 90, v. 15, n. 28, dez, p. 17-39, 2008.
SENNETT, R. O declínio do homem público – as tiranias da intimidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.