A Educação Física na Saúde Mental: Construindo Uma Formação na Perspectiva Interdisciplinar
Por Odilon José Roble (Autor), Maria Inês Badaró Moreira (Autor), Fernanda Baeza Scagliusi (Autor).
Em Interface - Comunicação, Saúde, Educação v. 16, n 41, 2012.
Resumo
Introdução
O Ministério da Saúde (MS) promove a estruturação da rede de cuidados para o acolhimento do sofrimento psíquico na comunidade. Dentre os equipamentos desta rede, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) insere-se como articulador das ações que envolvem os portadores de sofrimento psíquico em um território, atendendo aos postulados de acessibilidade e equidade.
Com a regulamentação da Lei no. 10.216 (Brasil, 2001), testemunhamos avanços na reorganização dos serviços públicos (Brasil, 2005, 2004). Em 2010,existia uma rede com 1.531 CAPS, em todos os Estados (Brasil, 2010). Na direçãoda integração das ações de saúde mental às demais ações de saúde, a rede deatenção em saúde mental deve articular diversos equipamentos de saúde (Brasil,2004). Neste sentido, o CAPS equipamento tornou-se um ponto primordial de apoio dos portadores de sofrimento psíquico grave.
Na medida em que o processo de desinstitucionalização requer uma mudança da relação social com a loucura, o campo da saúde mental é permeado por conflitos e contradições, evidenciados em transformações para os usuários, seus familiares e a comunidade.
Tais mudanças incidem, também, sobre os profissionais envolvidos nesta nova maneira de cuidar. A compreensão dessa forma de (re)apropriar é fundamental, pois trata-se de uma tentativa de se compreender como as pessoas que vivenciam a condição de sofrimento psíquico ressignificam sua condição de existir em comunidade, por meio da "produção de vida, de sentido, de sociabilidade, a utilização dos espaços coletivos de convivência dispersa" (Rotelli, 1990, p.30). Esta concepção inaugura um novo campo de trabalho para diversos profissionais.
Este trabalho deve levar à produção de um novo tipo de subjetividade, que permita a manifestação sem interditar sua expressão; uma clínica que não retenha o indivíduo em um jogo institucional ou o (re)tome como objeto, desconsiderando-o como sujeito. Assim, confirma-se a desinstitucionalização como estratégia para a instituição inventada (Amarante, 2000).
Convocados por Basaglia (1985), sob o lema “a liberdade é terapêutica”, os trabalhadores da saúde, então protegidos pelo limite de suas especialidades, se viram diante do desafio de rever a forma como compreendiam e atuavam frente às necessidades de saúde do indivíduo com sofrimento psíquico intenso.
Consequentemente, diversos profissionais foram convocados a participar do campo da saúde mental, uma vez que a compreensão deste fenômeno e o trabalho em saúde passaram a requerer um olhar integral para os usuários dos serviços. Um desses profissionais foi o educador físico. Entretanto, a inserção desse profissional nesse campo é uma construção de um saber/fazer, já que esta é uma profissão sem tradição na área e cuja contratação não é obrigatória. Ademais, a maioria das pesquisas acerca da relação entre atividade física e saúde mental foca em uma perspectiva biomédica, investigando efeitos da atividade física sobre parâmetros de saúde mental. Assim, pouco se discute acerca das concepções, ações e possibilidades do educador físico nessa área (Wachs, Fraga, 2009). Para iniciarmos essa discussão, é importante retroceder e investigar: como o corpo e o movimento – objetos fundamentais da Educação Física – se relacionam com a loucura?