Resumo

Estudos têm sido desenvolvidos e apontam mudanças significativas no que se refere a diversidade de tradições políticas, étnicas, sociais, religiosas e de gênero configurando identidades plurais que se expressam nas distintas esferas sociais. Neste sentido, o multiculturalismo refere-se à compreensão da sociedade formada por identidades plurais, com base na diversidade de classe social, gênero, etnia, raça, padrões culturais e linguísticos, assim como outros marcadores identitários. Gênero aqui entendido como constructo cultural, tem sido moldado a partir de padrões que colocam em desigualdade as relações entre os sexos. Entretanto, a escola dentre outras instituições tem desempenhado um importante papel na reprodução de estereótipos que perpetuam visões de masculinidades e feminilidades responsáveis pela desigualdade entre os gêneros. Visando refletir sobre essas questões, este estudo realizado através de uma pesquisa-ação, teve como objetivo analisar a prática pedagógica na aula de Educação Física pautada na perspectiva multi/intercultural reconhecendo as suas contribuições para a superação do sexismo no contexto escolar. Em um primeiro momento partindo da análise bibliográfica foi necessário esclarecer como se dá a formação de identidades e a construção do gênero na sociedade multicultural, quais as formas de sexismo existentes no espaço escolar e quais os pressupostos do currículo multicultural da Educação Física. Em um segundo momento através da pesquisa-ação foi possível perceber de que forma esta perspectiva pôde favorecer o respeito e a equidade nas relações entre os gêneros. Esta pesquisa foi realizada em uma escola pública do Rio de Janeiro com professores e estudantes do 5º ano do ensino fundamental. A metodologia da pesquisa–ação organizou-se através de entrevistas semi-estruturadas realizadas com professores/as e com os/as estudantes, onde analisamos de que forma o sexismo estava presente na turma identificando as formas pelos quais ele se manifestava. Também foi utilizada nas aulas a promoção e adoção de uma prática pautada na educação multi/intercultural. Todas as aulas foram registradas em um diário de campo, onde se utilizou a observação participante na tentativa de promover reflexões e transformações no sentido de desafiar o preconceito entre os gêneros. Com o decorrer das aulas e os constantes questionamentos e reflexões realizados com a turma, percebemos a ressignificação de atitudes e comportamentos que foram evidenciados pela menor resistência em relação à participação conjunta de meninos e meninas. Observamos nesta etapa que os discursos discriminatórios verificados no início da pesquisa ocorriam em menor frequência e quando ocorriam eram criticados pelos/as próprios/as alunos/as. Consideramos esta evidência fundamental para o estudo, pois mostrou a possibilidade da transformação de comportamentos e atitudes frente a intervenções pedagógicas positivas e multiculturalmente orientadas. Acreditamos que questionar, desnaturalizar e desestabilizar essa realidade discriminatória e excludente no qual se insere o sexismo, constitui um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e mais igualitária. 

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