A emergência de um novo discurso sobre as práticas corporais

Esta pesquisa toma como objeto o Currículo de Referência de Mato Grosso do Sul - educação infantil e ensino fundamental (CRMS), lançado no ano de 2019, referenciado na Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Mobiliza para análise o Ciclo de Políticas, de Stephen Ball e colaboradores. Tem como objetivo estabelecer relações entre os agentes envolvidos na produção do texto e as concepções impressas no CRMS concernentes à Educação Física. Como resultado, identifica a influência do Instituto Ayrton Senna na produção do texto, e destaca as competências socioemocionais como pauta importante ao mesmo. Isso explica a presença desse discurso na BNCC, assim como no próprio CRMS, e sua possível dispersão em textos políticos no Brasil. A emergência da sociedade do desempenho (HAN, 2019) teve como um de seus efeitos o adoecimento psíquico da população. Em decorrência disso, observamos a emergência de comunidades epistêmicas produzindo discursos acerca do tema, e, com eles, práticas sociais e institucionais se espalharem. Identificou-se um problema (adoecimento da população), engendrando-se discursos que discorrem sobre ele, assim como foram produzidos outros discursos visando solucioná-lo. Como em muitos problemas sociais, a escola é vista como espaço privilegiado para sua resolução. Neste caso, não foi diferente, tornando-se cada vez mais recorrente o uso do conceito de competências socioemocionais no campo da educação, tanto em documentos curriculares, como em formações continuadas. No que diz respeito à Educação Física no CRMS, essas competências foram encontradas, principalmente, nas unidades temáticas “Brincadeiras e jogos” e “Lutas”. De acordo com o Instituto Ayrton Senna, existem 17 competências socioemocionais, divididas em 5 categorias, chamadas de macrocompetências, sendo elas a autogestão, engajamento com os outros, amabilidade, resiliência emocional, e abertura ao novo. Portanto, no caso da unidade “Brincadeiras e jogos”, a relação estabelecida no CRMS é com a macrocompetência “abertura ao novo”, haja vista que estas práticas corporais são menos rígidas e controladas, permitindo uma maior abertura a mudanças. A unidade “Lutas”, por sua vez, vincula-se às macrocompetências Autogestão e Resiliência Emocional.