Resumo

Objetivo: analisar as estratégias construídas por jovens atletas de futsal feminino de Santa Catarina, para conciliarem a formação esportiva e a formação escolar, descrevendo seu perfil escolar e expectativas de formação acadêmica, bem como entender o significado atribuído ao treino, aos estudos e à escola. Métodos: em dois momentos distintos, foi realizada uma revisão de literatura sistematizada, procurando nas evidências produzidas e nas lacunas encontradas, pontos de convergência e possibilidades de intervenção. O segundo passo metodológico foi a realização das entrevistas estruturadas, para traçar o perfil das atletas e suas expectativas de formação escolar. A amostra se constitui de 56 atletas de futsal feminino, nas categorias Sub-15 e Sub-20 anos. Ao avançarmos sobre o tema utilizamos como opção metodológica a “livre associação de palavras” a partir das estruturas “treinar”, “estudar” e “ir a escola”, comparando as respostas do grupo do futsal feminino a atletas do futebol masculino e do voleibol masculino e feminino. Resultados: A literatura internacional está mais avançada na discussão sobre a questão da conciliação entre a formação esportiva e escolar, percebendo a necessidade de adequação curricular, a dificuldade de aproveitamento do capital físico no mercado de trabalho ordinário, e a importância de estabelecer políticas públicas de atenção ao grande contingente de atletas que se dedica ao esporte e tem sua formação escolar comprometida, e que não alcançará o sucesso profissional em sua modalidade. No Brasil o tema começa a ser desvendado e as particularidades de cada esporte surgem com o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema, que poderão auxiliar a construção de políticas públicas voltadas para esse crescente grupo de jovens atletas e, também, estudantes. Para o futsal feminino, encontramos uma situação positiva de conciliação, onde as jovens atletas utilizam o ensino regular, matutino ou vespertino, e aquelas que freqüentam o ensino noturno o faz, em grande maioria, como acesso ao ensino superior. As taxas de repetência estão dentro da média estadual e nacional, bem como o índice de abandono escolar, entretanto, este último chama atenção por superar os números da modalidade futebol. A harmonização preconizada em lei não é alcançada, pois a flexibilização das normas, ou seja, o abono das faltas em caso de viagens é a estratégia mais utilizada, não ocorrendo reposição dos conteúdos perdidos. A expectativa criada em torno da profissionalização esportiva está muito condicionada aos aspectos familiares e das possibilidades de ganhos financeiros oferecido por cada modalidade. As respostas encontradas na “livre associação de palavras” mostra que no futsal feminino a expectativa de profissionalização no esporte existe, mas não supera a dedicação aos estudos, sendo organizada de maneira conciliada aos tempos escolares. Nesta modalidade ocorre também o oferecimento de bolsas de estudo no ensino superior, funcionando como um mecanismo de manutenção das jovens na modalidade esportiva. No voleibol a ideia de profissionalização é menor, principalmente para as mulheres, que percebem essa atividade como um momento de lazer. Por outro lado, no futebol masculino o esporte é visualizado como oportunidade de profissionalização, exigindo alto grau de dedicação dos jovens, que secundarizam o processo de formação escolar. Conclusão: Percebe-se uma tensão entre os campos de formação esportivo e escolar, que não são contemplados pelos órgãos competentes, que se preocupam apenas em fomentar a prática do alto rendimento sem observar crescente número de jovens que poderão ter sua escolarização prejudicada e em consequência a inserção no mercado de trabalho ordinário dificultada. A solução apresentada na literatura internacional é a flexibilização do currículo escolar dos jovens atletas, medida que pode encontrar dificuldades no Brasil, onde a formação esportiva não está relacionada ao sistema educacional, e que opta por flexibilizar as normas educacionais estabelecidas. 

Arquivo