Integra
João Saldanha, que hoje completaria 100 anos, foi jornalista no tempo da máquna de escrever e do papel carbono. E fez sucesso enorme como repórter e, principalmente, crítico e cronista, no rádio , no jornal e na televisão.
Conheci Saldanha nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. À noite, depois que passava as matérias do dia para as suas redações, a turma dos jornalistas brasileiros reunia-se em um “pub” na “Vila da Imprensa”.
Lá, João Saldanha reinava. Ninguém ousava contestá-lo, pois suas histórias eram bem fundamentadas e contadas com seriedade. E não havia tema que ele não dominasse, alguns contados com detalhes impressionantes. Uma boa cachaça sobre a mesa e muitos cigarros eram companheiros desse gaúcho que marcou época no nosso futebol.
Nilton Santos, a “Enciclopédia do Futebol”, que adorava contar histórias daquele tempo... incluía algumas que envolviam Saldanha, do tempo em que foi técnico do Botafogo.
Na primeira viagem que fez com o querido clube carioca para amistosos pelo interior do Brasil – tipo de caça-níquel para pagar a folha no fim do mês --, João foi alertado de que Garrincha costumava fugir do hotel para visitar a “zona”.
Daquela vez, no interior de Minas, quando os jogadores já estavam em seus quartos, João passou o time em revista. No quarto de Nilton a segunda cama estava vazia. Mané havia saído, de fato, pra zona.
Determinado, João buscá-lo.
Mané estava sentado ao lado da janela de um cabaré, abraçado a duas morenas. Quando viu pela vidraça que João atravessava a rua, Mané escondeu-se atrás de uma coluna. E ali ficou até que João Saldanha passasse por seu lado, e ele saiu atrás. Cutando o técnico pelas costas, Mané falou, com ar de gozação:
- Aí, Seu João. O senhor também gosta de mulher, é?
Nilton Santos ria muito cada vez que contava essa passagem que, acredito, não ser folclore, pois a turma daquele tempo vivia outra realidade.
Bons tempos, bons tempos. E que falta nos faz João Saldanha. Que falta...!
* Para saber mais sobre João Saldanha, veja o Programa Roda Viva http://cev.org.br/biblioteca/joao-saldanha-roda-viva-1987/