Resumo
A ocorrência que solicita nossa atenção refere-se a presença de alunos de nacionalidade brasileira no Philantropinum, sediado em Schnepfenthal (a outra versão localizava-se em Dessau-Prussia), leste da Alemanha, que a partir do final do século XVIII procurou por em pratica os ideais de Rousseau quanto a uma pedagogia baseada no que hoje se chama de Educação Física.
Integra
A FAMÍLIA LaROCQUE, DO MARANHÃO:
QUESTÃO DE PESQUISA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Professor de Educação Física
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO MARANHÃO
Em janeiro de 1999, o Prof. Lamartine Pereira DaCosta, da UGF, após o Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer, Educação Física, realizado em 1998, no Rio de Janeiro, fez um anúncio - através da lista de discussões do CEV (Centro Esportivo Virtual www.cev.org.br) sobre história - CEVHIST-L:
“Permitam-me iniciar o ano de 1999 fazendo um anuncio importante para o desenvolvimento da Historia do Esporte no plano nacional e internacional, como também mobilizar os amigos da Lista e fora dela para que sejam iniciadas pesquisas no tema que se segue.”
A ocorrência que solicita nossa atenção refere-se a presença de alunos de nacionalidade brasileira no Philantropinum, sediado em Schnepfenthal (a outra versão localizava-se em Dessau-Prussia), leste da Alemanha, que a partir do final do século XVIII procurou por em pratica os ideais de Rousseau quanto a uma pedagogia baseada no que hoje se chama de Educação Física.
As repercussões históricas deste Instituto são amplamente conhecidas pelos atuais pedagogos stricto sensu ou pelos profissionais do Esporte e da Educação Física, mas o que é novidade - e mesmo surpreendente - concerne aos 31 (trinta e um) nomes de brasileiros identificados pela origem de nascimento nos arquivos de Schnepfenthal, e como tais incluídos no corpo discente daquela instituição nas primeiras décadas do século XIX.
A descoberta deste fato retirado de fontes primarias deve-se a Michael Preisinger com quem DaCosta fez contatos na Academia Olímpica Internacional (Olympia-Grecia) a partir de 1993. Nesta época, Preisinger como historiador pesquisava os arquivos de Schnepfenthal para a Universidade do Esporte de Colonia-Alemanha e se deparou com os alunos brasileiros por acaso. Desde então têm sido procurados meios para investigações mais minuciosas sobre o tema, culminando com o auxilio de Gertrud Pfister, participante daquela lista e atual presidente da ISHPES.
Esta pesquisadora alemã obteve de Preisinger os nomes dos brasileiros do Philantropinum, que foram anunciados na abertura do VI Congresso Brasileiro de Historia do Esporte, Lazer e Educação Física, no dia 14 de dezembro de 1998, no Rio de Janeiro como se segue:
- Emanuel Bernhard;
- Louis Stockmeyer; Christiano Stockmeyer
- Guillermo Frohlich
- Tito de Sá; Julio de Sá
- José Antonio Moreira; Joaquim Moreira; João Antonio Moreira
- Francisco Pereira; Manuel Moreira; Antonio Moreira
- Adolfo Klingelhoefer; Eduard Klingelhoefer
- Constancio Pinto; Alberto Pinot
- Johan Reidner; Franz Reidner
- Jean de La Roque; Auguste de La Roque; Henri de La Roque; Guilherme de La Roque; Louis de La Roque; Carlos de La Roque
- Paul Tesdorpf; Ludwig Tesdorpf
- Cuno Mathies
- Waldemar Krug; Eberhard Krug
- James Otto.
Além desses nomes, Preisinger informa que a maioria deles tem como origem a cidade do Rio de Janeiro e o exercício de profissões ligadas ao comércio. Diante desses dados Lamartine P. DaCosta levanta as seguintes hipóteses e questões a investigar:
- A existência de vários membros de um mesmo parentesco indicaria o envio de filhos de uma determinada família ao longo das primeiras décadas do século XIX para se educarem na Europa. Tal procedimento ocorreu com os médicos brasileiros que se concentraram no curso de Medicina da Universidade de Montpellier-França, no mesmo período do século XIX. Como Montpellier era uma instituição de prestigio a época, algo semelhante poderia estar ocorrendo com o Philantropinum. A questão, no caso, refere-se a que tipo de repercussão teria ocorrido no Brasil: como escola de formação de pedagogos? Ou da então nascente educação física? Ou apenas pela formação humanista de alto nível, visando ao prestigio social? Ou uma mistura de tudo isso?
- Como aparentemente houve uma tradição no envio de alunos brasileiros a Schnepfenthal, cabe cogitar se de fato no retorno esses cidadãos formados no Philantropinum se dedicaram a desenvolver no Brasil o que aprenderam com a elite da pedagogia européia. Ou teriam eles (todos masculinos, por sinal) retornado ao comercio que caracterizava a maioria de suas famílias? Ou teriam em parte permanecido na Europa, também seguindo uma típica tradição de famílias abastadas brasileiras?
- O fato de serem de origem alemã cerca de metade dos alunos brasileiros do Philantropinum é também sintomático. Pode residir nesta peculiaridade a explicação de ter sido divulgado no Brasil a existência do Instituto fundado ao final do século XVII por Johann Basedow em Dassau e em Schnepfenthal, aberto a todas classes sociais, algo raro no período em evidência. Como, neste caso, repete-se a tradição familiar e classe abastada (comerciantes), perguntaríamos se esses teuto-brasileiros foram imigrantes bem sucedidos no Brasil ou eram meros representantes comerciais que se estabeleceram no País? Teriam eles mandado seus filhos à Alemanha para retornar e se destacar na nova pátria ou para se fixarem no pais de origem da família?
- Em resumo, quais seriam as repercussões efetivas dos Brasileiros do Philantropinium na primeira metade do século XIX? Estariam eles entre os primeiros educadores brasileiros formados na Pedagogia então revolucionaria de Rousseau? Ou seriam eles os primeiros educadores físicos lato sensu do País? Ou nada mais seriam eles do que meros membros de uma elite burguesa em ascensão após a abertura dos portos em 1808 e a Independência de 1822?
DaCosta propõem, então, aos colegas da lista a divulgação desse pressupostos de investigação e devido encaminhamento e debate do tema ... Reencontrei o Prof. Dr. Lamartine nos VII e VIII Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança (Gramados, 2000; Ponta Grossa 2002) e retomamos as conversas sobre os LaRocque. Comprometi-me, então, a reiniciar as buscas sobre essa família, em Maranhão, pois em 1999, já havia estado no Arquivo Público e não foi possível iniciar as pesquisas, por problemas técnicos. Naquela ocasião, informei ao Lamartine a existência da Família LaRocque no Maranhão – do então senador Henrique de LaRocque Almeida. Em 2000, em Gramado, voltamos a conversar sobre o assunto, mas não houve evolução das pesquisas. Neste ano, novos contatos, e decidimos por retomar, a partir dessas informações, a busca desses LaRocque... Voltei ao Arquivo Público e à Biblioteca Pública “Benedito Leite”...
Os LaRocque - importante família estabelecida no Pará -, procedem de dois irmãos:
I - HENRIQUE de LaROCQUE (c. 1821 – Porto ?), que deixou geração do seu casamento, em 1848 – Pará -, com Matilde Isabel da Costa ( ? – 1919); e
II – LUIZ de LaROCQUE (c. 1827 – Porto ?), que deixou geração de seu casamento, em 1854 (Pará) com sua cunhada Emília Ludmila da Costa.
Ambos, filhos de JOÃO LUIZ de LaROCQUE (c. 1800 – a. 1854) e de Rosa Albertina de Melo. Entre os membros dessa família registra-se o senador HENRIQUE de LaROCQUE ALMEIDA (08.08.1912 – São Luís/Maranhão), advogado diplomado pela Faculdade Nacional do Rio de Janeiro (hoje, UFRJ). (in DICIONÁRIO DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS, vol. II, BARATA, Carlos Eduardo de Almeida; CUNHA BUENO, Antônio Henrique da. Arquivos da Biblioteca Pública “Benedito Leite”).
No Dicionário, é dada como sobrenome de origem escocesa, o que é contestado por Henrique Artur de Sousa, para quem a família LaRocque estabelecida no Brasil é de origem portuguesa, da cidade do Porto – encontrou uma primeira referência no início da colonização do Brasil, nos anos 1500, em São Vicente ... -, o que parece ser a versão verídica, haja vista que o falecimento de dois membros dessa família – os irmãos Henrique e Luís, filhos de João Luís de LaRocque e sua mulher Rosa Albertina de Melo – se dão na cidade do Porto, no século XIX... (vide Dicionário ...)
Informa-nos Henrique Artur de Sousa - genealogista estabelecido em Brasília, que está escrevendo um livro sobre o Senador LaRocque (informação encontrada no Arquivo Público, sobre a existência desse pesquisador ...) -, que efetivamente alguns LaRocque se estabeleceram no Maranhão, a partir de 1832.
Esse pesquisador encontrou documentos no Arquivo Público do Estado do Maranhão “firmados de próprio punho” de três membros da família LaRocque, quando de sua chegada, “de que haviam estudado na Alemanha”, numa cidade chamada Schnepfenthal ! Filhos de Jean Francoise de LaRocque:
- Carolina – depois Baronesa de Santos;
- Henrique de La Rocque;
- Guilherme de LaRocque;
- João Luís de LaRocque;
- Luís de LaRocque;
- Rosa;
- Amélia;
- Antônio de LaRocque.
Desses irmãos, quatro estudaram na Alemanha - ou seriam seus descendentes? o Sr. Henrique não soube precisar -, mas afirma que Henrique de LaRocque Júnior, e seus irmãos João e Augusto, também podem ter estudado na Alemanha ...
Henrique de LaRocque Júnior - viria construir o Mercado de Ver-o-Peso, em Belém do Pará -, vem a ser avô do Senador LaRocque ...
Vamos aguardar o livro sobre a Família LaRocque, do Maranhão, para esclarecer algumas questões de pesquisa... ou ...
QUADRO 5
ALUNOS BRASILEIROS NO PHILANTROPINIUM /SCHNEPFENTHAL, ALEMANHA, 1834 – 1924
ESCOLA MODELO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
NOME |
LOCAL E ANO NASCIMENTO |
PERÍODO DE ESTUDOS |
|
|
|
Stockmeyer, Luis |
Rio de Janeiro, 1825 |
1834 – 1840 |
Stockmeyer, Christiano |
Rio de Janeiro, 1827 |
1837 – 1841 |
Fröhlich, Guillermo |
Rio de Janeiro, 1826 |
1838 – 1842 |
Stockmeyer, Carlos |
Rio de Janeiro, 1829 |
1839 – 1841 |
De Sá, Tito |
Rio de Janeiro, 1828 |
1840 – 1843 |
0De Sá, Julio |
Rio de Janeiro, 1830 |
1840 – 1845 |
Moreira, José Antonio |
Rio de Janeiro, 1830 |
1841 – 1846 |
Moreira, Joaquim |
Rio de Janeiro, 1832 |
1841 – 1846 |
Moreira, João Antonio |
Rio de Janeiro, 1830 |
1844 – 1848 |
Pereira, Francisco F.F |
Rio de Janeiro, 1831 |
1844 – 1848 |
Moreira, Manoel |
Rio de Janeiro, 1833 |
1846 – 1848 |
Moreira, Antonio |
Rio de Janeiro, 1834 |
1846 – 1848 |
Klingelhoefer, Adolf |
Rio de Janeiro, 1836 |
1850 – 1853 |
Klingelhoefer, Eduard |
Rio de Janeiro, 1840 |
1850 – 1856 |
Pinto, Constancio |
Rio de Janeiro, ? |
1854 – 1857 |
Machado, Carlos |
Rio de Janeiro, ? |
1854 – 1857 |
Pinto, Antonio |
Rio de Janeiro, ? |
1856 – 1857 |
Pinto, Alberto |
Rio de Janeiro, ? |
1856 – 1861 |
Reidner, Johann |
Rio de Janeiro, ? |
1860 – 1864 |
Reidner, Franz |
Rio de Janeiro, ? |
1860 – 1864 |
de La Roque, Jean |
Pará, 1850 |
1861 – 1866 |
de La Roque, Auguste |
Pará, 1851 |
1861 – 1867 |
de La Roque, Henri |
Pará, 1849 |
1861 – 1864 |
de La Roque, Guilherme |
Cametá, 1853 |
1863 – 1869 |
Herzberg, Eugen Graf v. |
Rio de Janeiro, 1854 |
1865 – 1868 |
De La Roque, Luiz |
Pará, 1856 |
1865 – 1871 |
de La Roque, Carlos |
Pará, 1857 |
1865 – 1871 |
Tesdorpf, Paul H. |
Rio de Janeiro, 1858 |
1866 – 1868 |
Tesdorpf, Ludwig |
Rio de Janeiro, 1856 |
1866 – 1868 |
Mathies, Cuno |
Santa Anna/Braz., 1882 |
1890 – 1897 |
Krug, Waldemar |
Sao Paulo, 1897 |
1910 – 1912 |
Krug, Eberhard |
Sao Paulo, 1900 |
1912 – 1914 |
Otto, James |
Berlim, 1907 |
1922 – 1924 |
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Fonte: Preisinger, M. (Arquivos de Schnepfenthal – 1998)