Resumo

A atenção básica à saúde constitui um desafiador espaço de intervenção para o profissional de Educação Física (EF), pois os saberes teóricos e práticos necessários para atuação neste setor ainda não estão consolidados na preparação profissional. A superação do conceito biomédico de saúde e uma efetiva aproximação com os serviços de saúde da atenção primária constituem pontos chaves para avanços na formação profissional. Assim, as graduações em EF têm procurado adequar seus currículos com o intuito de formar profissionais capacitados a atender as novas e crescentes demandas do campo da saúde, o que inclui o âmbito da saúde coletiva. Neste contexto, graduações em EF com ênfase de formação para o setor saúde têm sido criadas. Assim, pergunta-se: quais são os avanços obtidos com estas novas propostas de formação profissional? Motivada por este questionamento, a presente pesquisa buscou compreender a preparação profissional para atuação na saúde coletiva de duas graduações de EF, com ênfase de formação para a área da saúde, de uma renomada Universidade brasileira. Em específico, analisou-se: o conceito de saúde subjacente á formação profissional; o papel atribuído ao profissional de EF no campo da saúde; a aproximação com o campo de trabalho da saúde; e a configuração da base de conhecimento curricular. Apoiado em uma abordagem qualitativa, os dados, oriundos de documentos e entrevistas realizadas com docentes, foram examinados a luz da Análise de Conteúdo Temática de Bardin (2009) e do modelo teórico de Kirk et al. (1977) sobre a Base de Conhecimento Curricular. Constatou-se que o conceito de saúde biomédico ainda está implícito nos currículos, fundamentando ações estritamente prescritivas, norteada por aspectos predominantemente biológicos e com foco na doença. Porém, também observou-se elementos que sugerem a superação deste modelo, como o entendimento da saúde como o resultado das condições de vida, envolvendo determinantes de saúde tanto biológicos quanto socioculturais. Baseado nesta perspectiva, o profissional de EF assume a função de promotor da saúde por meio do empoderamento, sendo a atividade física o determinante de saúde específico de sua competência, mas sem eximir sua reponsabilidade de considerar e intervir nos demais. Estas visões antagônicas de práticas á saúde emergiram em um contexto de inconsistências e incoerências, apontando que a formação em EF ainda não tem claramente definido o conceito de saúde subjacente á sua prática profissional, especificamente para o âmbito da saúde coletiva. A magnitude destes contrassensos foi específica para cada uma dos currículos investigados, ou seja, o histórico particular de cada graduação influenciará na formação em saúde dos futuros profissionais. Também observou-se fragilidade nas estratégias de aproximação dos estudantes com os serviços de saúde, especialmente no contexto da atenção primária. Por fim, o processo de formação é fundamentado por um corpo de conhecimento curricular de caráter, predominantemente, acadêmico/científico e biodinâmico. Em suma, apesar dos avanços, os conhecimentos teóricos e práticos do campo da saúde coletiva ainda não estão consolidados nos currículos investigados, evidenciando que a EF ainda está em processo de consolidação enquanto profissão da saúde no contexto da saúde pública.

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