Resumo

Nesta tese, pretende-se analisar de forma crítica como se mensura cientificamente, articula-se social e moralmente, como também se regula institucional e politicamente os corpos de atletas com variações intersexuais. Pensando especificamente no âmbito do esporte de alto rendimento, em eventos internacionais e/ou olímpicos, a proposta mais significativa do trabalho reside em entender as maneiras como se imagina e também se encarna o corpo sexuado entre tantas disputas por valor, entre elas, a interpretação de que o “dimorfismo sexual” define o que seria o “sexo biológico” e, consequentemente, o que o “sexo atlético” deve ser. Para isso, há um rastreamento tanto histórico quanto simbólico da gestão do que chamo de um desejo de integridade, isto é, um modo de fomentar, inscrever e regular valorosamente os corpos de mulheres consideradas excessivamente masculinas para garantir a elegibilidade na categoria feminina. Discutiremos os atributos e os comportamentos que encarnam o que se considera masculino por excelência e por essência, como a força e o vigor no esporte de elite, justamente porque essas associações imaginativas e materiais integram formas de classificar e de gerir que existem como conflitos sociais, políticos e, principalmente, científicos. De modo que também importa esmiuçar as maneiras de conhecer e de legitimar determinado saber como mais validado, consensuado e verdadeiro para estabelecer um sexo/gênero ou um marcador biológico dentro do mundo esportivo. Assim, a tese também se dedica a analisar várias regulações esportivas feitas por instituições como o Comitê Olímpico Internacional para proteger o esporte feminino. Nesta tentativa de desfiar essas complexas racionalidades e acionamentos sobre o corpo elegível, veremos como a proteção se articula com a suspeição e a violência para estabelecer uma certa justiça esportiva. Para entender as investigações e os protocolos envolvidos nessas políticas regulatórias, vamos acompanhar algumas histórias, como a de Caster Semenya, Dutee Chand e Edinanci Silva. Todas essas histórias se entrelaçam em uma interpretação sobre a colonialidade do poder que fundamenta qualquer gestão generificada e racializada desses corpos femininos. Por fim, iremos analisar um regime da excecionalidade através dos direitos que ainda sustenta esse emaranhado regulatório sempre buscando alguma forma de normalização social.

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