Resumo

Este estudo teve como objetivo investigar como se articulam as expectativas e interesses dos coordenadores, orientadores e das crianças e adolescentes no cotidiano do programa social esportivo “Em Cada Campo uma Escolinha” (ECCE), e compreender de que forma isso se relaciona com a existência (e manutenção) do referido programa na agenda da política pública municipal. Para tanto, recorri à etnografia e suas ferramentas de produção de dados. Realizei observações, entrevistas, assim como analisei documentos e materiais impressos que a mim foram disponibilizados. Neles, verifiquei os objetivos do programa social, o qual estava pautado pela intenção de promover a inclusão e integração do público atendido, assim como de se constituir um espaço de educação através da prática lúdica do futebol. Atentando-me para o olhar da diversidade esportiva, passei a acompanhar as reuniões, as competições e os treinos, assim como outros espaços articulados a estes, como confraternizações, almoços e churrascos. A partir da observação das relações construídas entre os diversos atores nesses espaços, pude apreender um conjunto heterogêneo de significados vinculados à prática futebolística no cenário do programa, que aparecem articulados na etnografia: educação, ocupação de tempo, diversão, amizade, ascensão social, rendimento esportivo, entre outros. A partir do estranhamento da noção de articulação e de posse de um conjunto de dados, elaborei três capítulos com a premissa de atender o objetivo estabelecido. No primeiro deles (Capítulo 4), tive a preocupação de contextualizar o programa em linhas gerais - nele, relato a forma como o programa foi instituído junto à agenda da política social do município, os objetivos estabelecidos pelos coordenadores e, além disso, as características do público atendido, dos orientadores das escolinhas, bem como a forma que acessaram o programa. Na seção seguinte (Capítulo 5), ao caracterizar a finalidade dos distintos espaços-tempos do programa (reuniões, competições e treinamentos), procurei mostrar que em cada um desses espaços, a atuação das crianças, dos adolescentes e dos orientadores, por vezes, se dava de forma diferente, estando os interesses e expectativas atrelados a estes distintos momentos, em que revelavam singulares maneiras de agir. Por fim, no capítulo 6, lanço mão de um conjunto de dados que fundamentam a entrada das crianças e adolescentes nos coletivos das escolinhas, bem como as expectativas que os orientadores de duas escolinhas escolhidas têm frente ao trabalho que desenvolvem. Desta forma, é possível inferir que a heterogeneidade de expectativas encontradas ‘em campo’, mais do que se constituírem nos sentidos de cada um dos segmentos de atores sociais envolvidos, denotam que, uma vez articuladas, elas contribuem para que o programa social esportivo mantenha-se em funcionamento na agenda da política pública municipal.

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