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A mídia brasileira, nos últimos meses, não fala de outra coisa senão dos jogos pan-americanos. Os noticiários enaltecem as moderníssimas instalações, os 42 países envolvidos, o número de atletas participantes e, logicamente, as chances de medalhas dos competidores brasileiros. Os jornalistas, em clima de festa, transferiram seus estúdios e realizam suas reportagens dentro das majestosas instalações da vila olímpica, entrevistando atletas de diferentes modalidades esportivas.

Em meio a tudo isso, as políticas públicas brasileiras de educação, esporte e lazer, saúde e muitas outras continuam bradando em alto e bom tom o famoso ideário da inclusão, da não discriminação, da equidade de oportunidades, e da igualdade de direitos. Entretanto, apesar desse grito histórico ecoar por todo o mundo, os dirigentes dos comitês olímpicos e paraolímpico não tiveram a coragem de transformar essas políticas em práticas efetivas.
Estamos falando da inadmissível, inaceitável e contraditória concepção de que os jogos parapan-americanos devem ser realizados após os jogos pan-americanos. Aceitar essa postura passivamente é legitimar que os segundos são menos importantes que os primeiros; que existem atletas de primeira e segunda categoria; que há campeões e “campeões”; ídolos e “ídolos”.

A pergunta que não se cala é por que os atletas deficientes não podem competir com os seus pares no mesmo espaço e tempo dos outros atletas? Será que os organizadores não conseguiriam intercalar as provas esportivas e aproveitar, de uma só vez, o público presente, a segurança, os voluntários e toda a parafernália montada para os jogos pan-americanos?

Não! A questão não é técnica ou organizacional, mas de hipocrisia generalizada. Os dirigentes do Comitê Paraolímpico Brasileiro, por exemplo, gastaram todos os seus esforços, nos últimos anos, preparando os atletas brasileiros para essa competição. Entretanto, esqueceram da formação política desses atletas, perdendo, em casa, uma ótima chance de mudar a história dos jogos mundiais, de tornar realidade um sonho, o de ver nas vilas olímpicas atletas deficientes e não deficientes entrevistados, circulando e competindo com seus pares.

Justificar essa separação com argumentos econômicos, ou de que a vila não comportaria todos os atletas de uma só vez, não faz sentido, porque as dependências para os jogos foram planejadas e estão sendo construídas há vários anos. Infelizmente faltaram, na época certa, vontade política e visão de futuro dos dirigentes dos comitês olímpico e paraolímpico brasileiros.

As políticas públicas cortadas transversalmente pelo ideário da inclusão, da equidade de oportunidades e igualdade de direitos, mais uma vez foram esquecidas e negligenciadas, prevalecendo os discursos vazios e hipócritas, dos homens e mulheres sempre contrários à discriminação e às injustiças, mas favoráveis à igualdade universal entre os homens, porém, numa concepção de homem, mundo e sociedade em que se vêem e se acreditam mais iguais que os outros, deixando claro que a hipocrisia não tem endereço fixo.

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