Integra

Atribuo a expressão que dá título a esta reflexão ao meu professor orientador (na academia e na existência) Jorge Bento. Talvez a frase nem seja de sua autoria, todavia lhe atribuo os créditos por ter sido quem me apresentou em momento muito pertinente, durante um debate acadêmico onde só havia uma exclamação possível: a ignorância é atrevida!

Retomo a expressão para manifestar meu espanto em relação a campanha contrária aos cursos em EAD na área da saúde. Só posso atribuir tamanho conservadorismo (no mínimo) a ignorância de seus militantes sobre o que realmente significa um curso ou programa em EAD. Olha que sou um velho de 67 anos, sou do tempo do giz branco e quadro negro, do tempo do retroprojetor e transparências, dos slides, sobrevivi e me dei bem com os “power points” e congêneres, até preparo alguns vídeos amadores para estimular a participação dos alunos nas minhas aulas.

Mas, efetivamente não sou da geração virtual. Todavia, isto não me impede de estar atento as inovações. Mesmo com pouca proficiência, com dificuldade técnica procuro superar minha ignorância pedindo socorro, recorrendo a internet, fazendo cursos de formação e lendo manuais. Foi por esse caminho que desconstruí meu preconceito com a EAD e passei a utiliza-lo em minhas aulas, evidentemente ainda dentro das minhas parcas competências. Sua riqueza, suas possibilidades pedagógicas, sua potencialidade para ir muito além das aulas tradicionais ainda predominantes em nossa academia é um fato indiscutível. O cartaz da campanha, na minha modesta opinião e data vênia aos seus militantes, revela com clareza a ignorância contra a formação em EAD na área da saúde: “Formação na área da saúde precisa de prática” afirma o pôster.

É evidente que tais militantes manifestam nesta afirmação que não conhecem realmente as tecnologias da EAD. Que visão arcaica, quanta desinformação. Será que imaginam os programas em EAD limitados a um vídeo onde um professor dá uma aula ou conferência e depois se aplica uma prova? Ou será que ainda imaginam que os contemporâneos cursos em EAD são a versão informatizada daqueles cursos por correspondência que vinham encartados nos “gibis” de minha infância?

Será que entre estes militantes conservadores alguns deles já estiveram num ambiente ou numa plataforma de EAD? Será que conhecem minimamente as ferramentas que estão disponíveis ao professor? Sinceramente, não acredito! Qual a relação entre EAD e a impossibilidade de atividades práticas? Talvez, estejam confundindo e, desta forma, atrelando atividades práticas exclusivamente a presença de um professor.

Caros militantes vocês pretendem parar o mundo? Para não perder o hábito acadêmico sugiro a leitura de “Homo Deus” do historiador Yuval Noah Harari. Não! Não é um livro técnico sobre EAD é uma obra que a partir dos tempos atuais onde a inteligência artificial, algoritmos, a nanotecnologia os robôs convivem em nosso dia a dia, nos faz refletir sobre o tempo futuro. Um tempo em que as tecnologias serão bem mais competentes que nossa capacidade humana de captar, armazenar e processar a complexidade das informações.

Caros militantes, deixem seu medo de lado. Em nosso tempo um cirurgião em Londres por tecnologia à distância opera o coração de um paciente em Porto Alegre pelo SUS. Vejam que esta prática médica já não exige a presença do cirurgião ao lado do paciente.

Enfim, os tempos mudaram e ainda mudarão a uma velocidade vertiginosa. Não queiram nos convencer que ficar presos as nossas cavernas voltados para as paredes ao fundo onde apenas vemos sombras da realidade seja o melhor conselho. Vamos nos libertar de velhas amarras e vamos enfrentar os desafios da inovação.

Com consideração e respeito
Adroaldo Gaya
Prof. Titular da UFRGS