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Esquema corporal x imagem corporal: Um duelo para o bem comum

A definição destes dois termos é de grande importância para compreendermos como ocorre o processo de desenvolvimento psicomotor na criança.

Quando nos referimos a esquema corporal vemos como a forma concreta de comunicação do indivíduo com o mundo, sendo uma representação inconsciente, preconciente e consciente.

Se o esquema corporal é em principio o mesmo para todos, desde que sobre as mesmas condições, exemplo: idade, a imagem corporal é peculiar a cada um, pois está ligado ao sujeito e a sua história, sendo a representação do inconsciente, podendo se tornar em parte pré-consciente, e somente quando associada a linguagem, corporal ou verbal, será consciente.

A imagem do corpo é a cada momento a memória inconsciente de todo vivido relacional, podendo ser visual, motora, auditiva, tátil, entre outros, não devendo, portanto ser analisada separadamente ou adotar para cada estrutura um padrão único para avaliação de alterações em todas as estruturas. Toda mudança reconhecível entra na consciência comparando-se com situações já vivenciadas, realizando assim uma avaliação da nova situação que gera uma mudança na imagem corporal.

Para uma comprovação podemos ter como base a teoria de Zona de Desenvolvimento Proximal enunciada por Vygotsky (p.73, 2001), o qual enfatiza a todo o momento que o aprendizado e o posterior desenvolvimento se da a partir da interação que o indivíduo tem com o meio. Segundo ele a aprendizagem ocorre a partir de um desenvolvimento potencial para um desenvolvimento real. Isso explica a necessidade do indivíduo ter uma imagem corporal que facilite a interação com o meio, sendo de fundamental importância à participação de um sujeito mais experiente para que aquilo que ele consiga fazer hoje com a ajuda do mesmo, num estágio posterior seja capaz de realizar sozinho.

Mediante esse conceito, é importante reconhecer que a imagem corporal deve estar estruturada o suficiente para que essa relação ocorra através do esquema corporal, que é um facilitador na comunicação, de forma objetiva promovendo uma constante alteração na imagem que o indivíduo possui. Sabemos que a base da imagem corporal se estrutura até aproximadamente os seis anos de idade, o que corresponde ao final da educação infantil quando relacionado à educação física escolar, porém a mesma sofre alterações posteriores, em função da continua relação que o indivíduo mantém com o meio.

Assim ao esclarecermos de forma sucinta ambos os termos, podemos chegar a conclusão do quão correlacionados estão os dois, devendo ser vistos e analisados como um todo, pois só assim na qualidade de profissional de educação física, conseguiremos adquirir o ápice, ou seja, uma imagem corporal bem estruturada ao ponto de promover um constante desenvolvimento psicomotor.

Estruturação da imagem corporal: Uma perspectiva para antifragmentação

O inicio do desenvolvimento, que corresponde a faixa etária de 0 a 2 anos, se processa a partir de movimentos reflexos e básicos fundamentais que são inatos, tendo como conseguinte uma estimulação casual explicado como parte de um processo maturacional e resulta da imitação e liberdade de movimentos. Quanto maior forem os estímulos e a possibilidade de novas experiências do recém nascido durante seus primeiros anos de vida, mais completa será a formação da sua imagem corporal, principalmente sobre o ponto de vista psicomotor.

A imagem corporal do bebê amadurece aos poucos na medida em que ele experimenta o toque, a exploração do espaço, manipulação de objetos e o contato com os indivíduos.

As experiências corporais que determinam a imagem corporal colaboram para modelação de um esquema que refletirá na adolescência e na vida adulta. Sua forma poderá ser lapidada, porém terá os elementos da construção inicial preservado, apesar das transformações ocorridas ao longo da vida.

Segundo Le Bouche, a idéia de separação do seu corpo de outros corpos e objetos se da gradativamente. No que diz respeito a isso podemos enfatizar a importância da "fase do espelho", enunciada por Le Bouche segundo os estudos de Wallon, a imagem do todo acontece quando ele se vê no espelho, passando então de imagem do corpo fragmentado, a compreensão da unidade do seu corpo como um todo organizado.

Quando exposto à estimulação organizada proporcionando assim uma elevação de sua confiança e auto estima através de suas habilidades e capacidades motoras, tendem a desenvolver além do que é esperado. Podemos entender esta auto estima como sendo uma estruturação dos conceitos que o sujeito detém intrinsecamente, e fundamentais para sua posterior auto compreensão.
O fortalecimento desta auto estima está diretamente ligado ao afetivo, isso explica a necessidade do afeto como fonte primaria da estruturação da imagem corporal, pois segundo Vygostsky o pensamento é afetivo, isso vem facilitar ou prejudicar o desenvolvimento cognitivo e consequentemente integral da criança.

Segundo Bee (1996), o afeto ate os três meses é fundamental para o fortalecimento da auto estima. Pois o mesmo é o facilitador para que o indivíduo se sinta inserido no contexto social, com confiança em seus conceitos, decisões e consequentemente em seu desenvolvimento, e assim facilitando a aprendizagem.

Outro fator que deve ser levado em consideração para estruturação da imagem corporal é o lúdico que segundo Feijó pode ser entendido como um traço bio-psico-fisiológico inerente a todo ser humano, que traz em seu bojo, facilmente os estados de satisfação, prazer, alegria e de envolvimento.

Isso é fundamental, pois tudo o que fazemos com emoção utilizamos boa parte do sistema nervoso central, liberando neurotrasmissores que facilitam a aprendizagem. Sendo assim, cai a mística que o dualismo ainda insiste em defender, o de que temos um corpo para o que somos um corpo.

Podemos observar que o individuo quando com o esquema corporal estruturado participa com prazer das atividades se motivando, e isso facilitará a aprendizagem, na medida que através das sinapses glutamérgicas ele consegue associações neurais em maior escala, podendo usufruir de suas experiências anteriores para a aprendizagem.

A Imagem corporal apesar de ter uma base, esta em constante ruptura e adaptação permitindo ao educador intervir através de dinâmicas, interpretações e até mesmo atividades recreativas, afim, de possibilitar o auto conhecimento emocional e corporal..

Então a dissociação entre esquema e imagem corporal não existe quando tratamos de indivíduos pluridimencionais que a todo o momento necessitam do seu corpo e de sua auto imagem para que possam melhor desenvolver-se nos parâmetros cognitivos, afetivos e motores.

Deixando o embasamento teórico e a cientificidade para o esclarecimento desta questão (imagem e esquema corporal), a qual acreditamos ser parâmetro de base para o profissional de educação física que deseje trabalhar no âmbito da educação física escolar, com um trabalho sério e reconhecido, analisaremos essa questão com uma visão humana.

O fortalecimento e estruturação da imagem no indivíduo através de vivências (experiências), pelo seu esquema vai além de uma simples questão educacional passando de forma determinante e transversal no contexto social. Pois a sociedade tem a capacidade de influenciar de forma positiva ou negativa neste desenvolvimento. Por isso ressaltamos também a responsabilidade que temos como cidadões capazes de modificarmos uma história, criando assim subsídios para um perfeito desenvolvimento bio-psico-fisiologico de todo e qualquer indivíduo que pertença a nossa sociedade.

Fica claro que embora existam estudos e comprovações de teorias, de pouco valem se não tivermos priorizado as questões humanas, que facilitem e proporcionem uma melhor formação e estruturação do esquema e a imagem corporal de um ser pluridimencional.

Obs. Os autores Fernanda Soares Correa e Célio de Almeida Garcia Jr. são alunos da UNIVERSO. E-mails: fsc@educadorfisico.zzn.com e cega-rkg@hotmail.com

Referências bibliografias

  • Borges, Célio José, Educação física para o pré-escolar, Rio de Janeiro: Sprint, 1987.
  • Bee, Helen, A criança em desenvolvimento, Porto Alegre, Artmed, 1996.
  • Carrara, Kester, Introducão a psicologia da educação, São Paulo: Avercamp, 2004.
  • Dolto, Françoise, A imagem inconsciente do corpo, São Paulo, Perspectiva, 1992.
  • Gardener, Howard, Inteligência um conceito reformulado, Objetiva, 2002.
  • Rego, Tereza Cristina, Vygotsky uma perspectiva histórico cultural da educação, Petrópolis: Editora Vozes, 2001.
  • Khalsa Dharma Singh, Longevidade do cérebro, Rio de Janeiro, Objetiva, 1997.
  • Vigotsky, L.S., Pensamento e Linguagem, São Paulo: Editora Martim Fontes, 2003.