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Atualmente a procura por uma melhora de qualidade de vida e de um corpo mais saudável, contribuiu para se verificar, a importância do profissional de educação física, na academia, no clube, no hospital e na escola.

É importante, reconhecer o valor da educação física dentro da escola, principalmente, nos primeiros anos cruciais da vida de um sujeito, em que, a personalidade, o caráter, a moral, o conhecimento do próprio corpo e este no contexto social, estão sendo construídos.

Este estudo foi desenvolvido como tema de monografia do curso de pós-graduação em Psicopedagogia Institucional e Clínica. E, a partir do momento que se constatou, que a aprendizagem pode ser desenvolvida através das aulas de educação física, verificamos que esta, tornou-se uma grande aliada ao estimular as potencialidades das crianças pela cultura corporal, buscando com isso, minimizar as dificuldades de aprendizagem e o fracasso escolar.

Com base nos estudos de Vygotsky, Marta Kohl de Oliveira (2000), conseguiu definir bem o que o autor entende como aprendizagem:

"É o processo pelo qual, o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente, as outras pessoas. É um processo que se diferencia dos fatores inatos (a capacidade de digestão, por exemplo, que já nasce com o indivíduo) e dos processos de maturação do organismo, independentes da informação do ambiente ( a maturação sexual, por exemplo)". (p.57)

Já dizia Sara Pain (1992): ‘é com o corpo que se aprende’ (p.22), então se pode acreditar que a educação física tem grande responsabilidade para com o processo de aprendizagem. Para melhor entendermos a autora, eis um exemplo: a criança pequena, cuja linguagem está sendo desenvolvida, para ensinarmos noções como: em cima, embaixo, entre outros, utilizamos de um recurso corporal, ou seja, fazemos um movimento com o braço apontando o lugar que desejamos. E para reafirmar o que disse a autora, vejamos a citação de João Batista Freire (1989): "E o significado, nessa primeira fase da vida, depende, mais que em qualquer outra, da ação corporal. Entre os sinais gráficos de uma língua escrita e o mundo concreto, existe um mediador, às vezes esquecido, que é a ação corporal". (p.20)

A aula de educação física aqui proposta tem como característica importante o brincar, já que este, costuma proporcionar momentos de alegria para a criança, os quais, poderão ser entendidos por ela como uma grande brincadeira, sendo este o bônus da educação física, porque, como afirma Vygotsky, o brinquedo coloca a criança em ação, ou seja, a criança interfere e é interferida diretamente durante a atividade, e até mesmo o espaço físico por ser diferente da sala de aula, onde cada criança senta individualmente em sua carteira, no pátio, na quadra ou no ginásio, esta solidão não acontece, pois, os trabalhos em grupos, com times, com os jogos, enfim, contribuem para a sociabilização e o desenvolvimento da aprendizagem destas crianças.

Não conseguimos ver, portanto, após uma análise, o prazer como característica definidora do brinquedo, pois, uma atividade onde haja a possibilidade de ‘perder’, acreditamos que não deva ser tão prazeroso assim, para aquele, cujo resultado da brincadeira for esse. O brinquedo também cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança, tendo enorme influência em seu desenvolvimento, pois, ele provê uma situação de transição entre a ação da criança com objetos concretos e suas ações com significados.

Concordamos que o meio e os estímulos por ele exercidos, são elementos responsáveis pelo desenvolvimento da cultura e do aprendizado. Com base nos estudos de Vygotsky, quanto mais aprendizagem maior o desenvolvimento. Por isso, valorizamos a estimulação da Zona de Desenvolvimento Proximal, que é a distância entre a Zona de Desenvolvimento Potencial ( é o nível de desenvolvimento em que a criança necessita de ajuda para executar algo que ela ainda não consegue fazer sozinha) e a Zona de Desenvolvimento Real (é o nível de desenvolvimento onde a criança já consegue executar uma tarefa sozinha).

Propõe-se assim, valorizar a individualidade de cada criança no grupo, pois é através deste, que ela vai trocar idéias, lidar com as diferenças do outro, construir regras, seu caráter e a forma de olhar o mundo.

Este estudo vem mostrar que a educação física escolar pode ser uma grande aliada para o desenvolvimento da aprendizagem ( tanto a formal - sala de aula- quanto à aprendizagem para vida e para o cotidiano). Mesmo que haja uma dificuldade instalada no espaço escolar, ela pode ser uma atividade que irá contribuir e muito, para o tratamento psicopedagógico (tratamento das dificuldades de aprendizagem) da criança.

Colocando a Educação Física, não como mera auxiliar das outras disciplinas, e sim, como uma disciplina independente, mas, que possui um caráter transdisciplinar, utilizamos o brincar, como recurso pedagógico, ou seja, o conteúdo desta educação física escolar é composto de brinquedos e brincadeiras.

Este estudo, não nega o gritante índice do fracasso escolar no Brasil, no entanto, valoriza o país de misturas, de diferenças culturais riquíssimas, onde o meio oferecido é de grande nível cultural.

Obviamente, devem ser levados em conta, os problemas sociais - políticos - econômicos em que o país atravessa, pois é comum encontrarmos professores, os quais muitas vezes, sem material adequado tentam ministrar sozinhos, aulas para cinqüenta (ou até mais) crianças.

Porém cabe-nos ressaltar com este trabalho, a verdadeira potência que é a educação física no contexto escolar e as transformações pelas quais ela vem passando durante os anos, pois seu histórico nos mostra, a sua veia militarista e autoritária, porém, atualmente encontramos profissionais que compreendem o seu aluno, como ser integral desenvolvendo uma educação física transformadora.

Deseja-se com esse trabalho, confirmar a idéia de que as diferenças são grandes parceiras da aprendizagem, e que as crianças com necessidades especiais tem capacidade para aprender e se desenvolver, desde que sejam estimuladas suas potencialidades, respeitadas suas individualidades e até mesmo suas limitações, mas quem não as tem?

É função do professor acreditar nas potencialidades dos alunos ( mesmo que o biológico não esteja dentro dos padrões esperados pela sociedade/escola, e sobre tudo, não entender este biológico como fator determinante para o desenvolvimento), evitar os rótulos, estimular, possibilitando, mediando, intervindo, pois, não temos o direito de julgar quem é, ou não capaz de aprender algo. Cabe ao professor (escola) acreditar mais e julgar menos...

E por considerar, a educação física capaz de entender o sujeito no seu mais amplo significado, proponho que sua prática saia do ‘1, 2, 3, 4’, dos jogos com bola sem compromisso, passando a utilizar aulas que possam contribuir diretamente com a aprendizagem para a vida e a para a aprendizagem formal (sala de aula), seja trabalhando a coordenação motora fina, para que a criança segure melhor o lápis, conseqüentemente, terá maior facilidade para o desenvolvimento da escrita, seja com uma atividade onde a abstração seja trabalhada, ajudando numa melhor internalização da matemática.

Para melhor esclarecimento, eis um exemplo de modelo de atividade para as aulas, com o enfoque aqui estudado:

Propõe-se uma atividade como a brincadeira de amarelinha, bastante conhecida na cultura popular infantil, além das regras já contidas na brincadeira, para se atingir um nível melhor, a criança deverá responder a questão proposta pelo professor, como por exemplo, como se separa a palavra ‘escola’ e a ela tenta executar a tarefa, se ela não conseguir, pede ajuda de uma outra criança, e assim com a criatividade do professor e tendo como base o grau de desenvolvimento das crianças, as questões vão sendo formuladas.

Nesta atividade, que a ‘olho nu’, não passa de uma mera brincadeira, trabalhamos equilíbrio, lateralidade e a coordenação motora, já que para se passar de um nível ao outro, passa-se pulando num pé só ou com os dois, entretanto, foram estimuladas também, a separação de sílabas e a abstração (já que não escrevemos a palavra durante a atividade), além da sociabilização no momento em que a criança não conseguiu sozinha executar a tarefa proposta e alguém ( professor ou outra criança) fez a mediação, interferindo no processo da aprendizagem. Houve portanto, a estimulação da zona de desenvolvimento proximal umas das outras, inclusive a do professor, nesta tarefa todos aprenderam e todos ensinaram.

Enfim, a educação física pode contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem, como também, para minimizar e até mesmo evitar a instalação das dificuldades de aprendizagem, além de resgatar a autonomia e auto-estima dos alunos, principalmente das crianças portadoras de necessidades especiais.

Quanto a estas, os benefícios são muitos, pois qualquer ganho físico, terá grande conseqüência para a aprendizagem e para o cotidiano destas crianças. Uma criança com síndrome de down, por exemplo, numa atividade com bolas, arcos, cones, ou até mesmo um banco, onde ela precisa correr, saltar, se arrastar, depender do amigo para a brincadeira ficar completa, certamente terá ganhado (os tais benefícios), pois esta criança tem propensão à obesidade, podendo lhe causar problemas cardíacos (se já não os têm), e por ser uma atividade aeróbia, haverá a diminuição do percentual de gordura, diminuindo assim, os riscos de problemas cardíacos, além de estimular o espírito de grupo e o companheirismo, já que um depende do outro para a realização da brincadeira. Além de tudo isso, há um ganho de tônus muscular, diminuindo a hipotonia que esta criança tem, ajudando-a nas suas atividades do dia-a-dia e em sala de aula.

Um autista, que no seu dia-a-dia, tem um comportamento de isolamento social , nas aulas brincadas é muito fácil testemunhar, esta criança se permitindo tocar no outro e ser tocada por ele, além de aceitar melhor as mudanças e inovações que ocorrem durante as aulas.

Para isso, o professor de educação física deverá buscar através de um referencial teórico, da criatividade e do desejo, possibilitar uma atividade física, a qual entenda que neste corpo ‘está contido’ registros da sua história, um sujeito que sofre, que ri, sonha, tem medos, dificuldades, potencialidades, segundo Jean-Yves Leloup (2000):" Quando você toca alguém, nunca toca só um corpo".(p.26)

Obs. A autora, profa. Andréa de Melo Lima, pertence a UFFR e a AFF

Referências bibliográficas

Paín, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1992.

Vygotsky, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

Freire, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo: Editora Scipione, 1989.

Leloup, Jean-Yves. O corpo e seus símbolos: uma antropologia essencial. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.

Oliveira, Marta Kohl de Oliveira. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento - Um processo sócio-histórico. São Paulo: Editora Scipione, 2000.