Integra

Sou levada a discordar daqueles que defendem que o esporte vive de resultados.

Uma afirmação como essa esconde em suas entranhas inúmeras assertivas que simplificam um fenômeno que é mais complexo do que muitos podem imaginar.

Se entendemos que um resultado é o produto de uma operação, ou seja, é o efeito de uma ação que finaliza um problema ou desafio, deixamos de lado todo o processo que leva a uma vitória ou derrota. Não vou negar que sou muito mais adepta dos processos do que dos resultados.

Só quem assiste a tudo de fora acredita que uma vitória, em um único campeonato, representa um fim. Os desafios enfrentados em qualquer competição são muito semelhantes aos propostos pela vida, que se repetem todos os dias ao longo da existência.

Depois de ouvir mais de um milhar de narrativas olímpicas vejo o que foi feito daqueles atletas que jogaram todas as fichas em uma final. Diante da possibilidade inquestionável de uma única medalha de ouro, arrastaram a desolação vivida com a frustração causada pela derrota. Há relatos de depressão, de desilusão e de imobilidade. Esses atletas, treinados para alcançar um único resultado, não foram preparados para o resultado adverso. Muito menos aprenderam com tudo o que levou até aquele momento.

O fim de um campeonato é apenas uma pequena parte de uma totalidade que é a vida na qual se insere a carreira. Uma final pode parecer a decretação de proficiência em uma habilidade praticada por seres humanos reconhecidamente multifuncionais. Por isso me encantam os processos. Eles indicam quem somos, o que somos e as tantas possibilidades que fogem ao modelo binário do ganhar e perder.

Uma final de uma campetição produz um campeão que pode ser reconhecido pelo título conquistado, como pode ser desqualificado por ele, caso não o mantenha em campeonatos futuros. Aí está a celebração da agonística: a busca incessante do melhor de si e não, necessariamente, no enfrentamento do outro. Outra máxima do esporte diz que mais difícil do que chegar ao lugar mais alto do pódio é se manter nele.

Por isso um resultado pode ainda ser tomado como solução, cuja finalidade foi resolver alguma coisa. Ganhar um título para satisfazer um sonho próprio ou de um grupo de pessoas. Nesse caso o foco não está na busca do melhor de si, como propõe um dos valores olímpicos, mas na solução de um problema gerado pela expectativa de outros. Quantos títulos são aguardados por anos, ou décadas, tornando-se assim uma sina de gerações que não guardam qualquer relação com o fato que desencadeou o tabu.

Uma final é sem dúvida um marco. Se por uma lado é o momento em que se define o melhor de uma competição, ela também pode representar o início de um novo ciclo, tanto para quem perde, como para quem ganha. Porque a vida, como o esporte, segue seu rumo com a mesma certeza de que o amanhã será sempre um novo dia, independentemente da chuva que cai ou do sol que brilha no dia de hoje.

Ganhar e perder fazem parte da vida e só mudam de significado a depender do ponto de vista. São duas faces de uma mesma moeda.

Seja o final da Copa América, da Copa do Mundo ou de uma prova olímpica o que qualifica uma vitória é a trajetória para a conquista e não a medalha em si.  Mas, há quem considere o resultado como o momento exato em que algo se finaliza. E lamento dizer que mesmo diante da evidência da vitória, o único resultado definitivo e inquestionável é a morte.