Resumo

Em São Paulo, na primeira metade do século XX, havia associações destinadas à promoção de atividades culturais e esportivas para os negros, que surgiram diante da necessidade de denunciar as práticas discriminatórias e promover a sociabilidade étnica através do atletismo, do boxe e, sobretudo, do futebol. Uma delas era a Imprensa Negra. Neste artigo, os autores buscaram compreender as estratégias da Imprensa Negra para noticiar a participação do negro no emergente campo do futebol. Utilizando a perspectiva teórica da História Cultural, se ocuparam dos conteúdos das matérias dos jornais da Imprensa Negra, disponíveis na Biblioteca Nacional na forma de microfilmes. O objetivo foi observar a continuidade e a regularidade do discurso, os pontos de afrontamento e de disputa simbólica em torno da negociação da construção identitária da "raça negra" no esporte e captar, através das mensagens emitidas por esses órgãos da imprensa, as estratégias de distinção utilizadas por esse grupo étnico/racial em torno da contestação das representações negativas ou construção de representações positivas sobre o negro no emergente campo do futebol. Concluíram que o sentimento de consciência racial, a necessidade de se integrar à nação e o desejo de ascensão social eram os motivos que mantinham unidos os negros através daquelas associações. A Imprensa Negra procurou construir uma representação identitária do negro que privilegiasse o capital futebolístico, sem se esquecer dos predicados morais como a disciplina, a higiene e a ordem. A estratégia de divulgação dos feitos de sucesso dos negros no campo esportivo promovia uma identidade positiva do negro no futebol, em conformidade com as demandas daquele contexto: uma nação higienizada e disciplinada na esteira do projeto nacional que via no futebol um meio de expressão positiva da brasilidade.

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