Resumo

O trabalho apresenta dados de uma pesquisa em andamento sobre o planejamento, construção, inauguração e uso, durante o período da última ditadura civil-militar (1964-1985), de um total de 14 estádios públicos estaduais de futebol com capacidade superior a 40 mil pessoas. Utilizamos distintos tipos de fonte do período, levantados e acessados principalmente no Sistema de Informações do Arquivo Nacional e na Hemeroteca Digital Brasileira. Esta comunicação enfoca as inaugurações, que receberam destaque na imprensa estadual e, às vezes, em jornais de outros estados e regiões do país. Frequentemente envolveram partidas amistosas: às vezes, clubes ou selecionados locais (estaduais) enfrentando um clube da Região Sudeste ou uma seleção nacional; noutras ocasiões, jogaram dois times de fora do estado. Estas cerimônias, realizadas em muitos casos com as obras ainda inacabadas, foram palco para discursos de governadores da Aliança Renovadora Nacional (Arena), que geralmente davam o próprio nome aos estádios construídos com recursos públicos e os inauguravam a poucos dias de terminarem seus mandatos. Tais festividades, para as quais eram convidadas autoridades (político-partidárias, desportivas, militares e eclesiásticas), incluíram também execução do Hino Nacional por bandas das Forças Armadas ou da Polícia Militar, desfiles escolares e homenagens (a jogadores de futebol, a dirigente esportivos e ao próprio governador). Compreendemos os usos destes estádios como parte de um processo de construção de discursos de consentimento em torno do regime e de investimento valorativo nas realizações deste. Isto se desdobra em vários aspectos, como, por exemplo, na contratação de numerosas obras públicas que permitiram o estabelecimento de vínculos entre autoridades políticas (civis e militares) e empreiteiras. 

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