Resumo

O surfe vem se expandindo em todo o Mundo, seus praticantes o correlacionam a um estilo de vida voltado à saúde e ao constante desafio. Também se observa nos dias atuais que essa prática corporal pode proporcionar um novo campo de estudo para diversos pesquisadores. Porém ao se realizar o surfe os seus praticantes estão sujeitos a alguns aspectos não tão positivos para á saúde como é o caso do surgimento da exostose do canal auditivo. A literatura científica especializada nos fornece poucos trabalhos sobre os fatores relacionados aos problemas de ouvido causados pela prática do surfe. O objetivo dessa pesquisa foi de identificar artigos científicos que abordam a temática relacionada aos problemas no ouvido dos surfistas. Para tanto, foi realizada uma revisão nas bases de dados Pubmed, Medline e Lilacs entre os anos de 2002 a 2017. Os problemas de ouvido relacionados à prática do surfe são comuns entre os surfistas, principalmente os que surfam em águas com temperatura frias e praticam com frequência elevada essa prática corporal. Introdução: A prática do surfe tem aumentado de forma significativa no Mundo ao longo dos tempos. Especificamente o Brasil se destaca pelo elevado número de praticantes tanto em nível recreativo como competitivo dentro dos campeonatos nacionais. Os surfistas são unânimes ao caracterizarem a costa brasileira como excepcional para a prática do surfe (COUTO, 2014). Na perspectiva de Steinman (2003), o surfe é um esporte completo, porém pode ser perigoso por ser praticado em ambiente oceânico, algumas vezes de caráter adverso onde os praticantes são expostos a condições climáticas como o vento, sol, chuva e frio intenso. Dentro desse ambiente muitas vezes desfavorável os surfistas estão predispostos a sofrerem fraturas, lesões e terem problemas no ouvido durante sua prática como as exostoses auditivas (TAYLOR; ZOLTAN 2006). Em síntese Goto et. al. (2013) comentam que as exostoses são excrescências ósseas benignas do canal auditivo externas, comumente encontradas em pessoas que se envolvem em atividades aquáticas, daí o nome "orelha do surfista". Este nome provém do fato de serem os surfistas os que tem a maior probabilidade de vir a desenvolver as exostoses devido ao tempo que passam dentro de água fria. Após anos a praticar desportos náuticos com frequência, os ossos do canal auditivo poderão vir a crescer fechando parcialmente ou totalmente o canal auditivo externo. Os mesmos autores esclarecem também que as exostoses permanecem clinicamente silenciosas até que se tornem grandes o suficiente para prejudicar a saída de detritos epiteliais e água do canal, caso em que pode haver otite externa associada e perda auditiva flutuante. O alívio sintomático é atingido por remoção cirúrgica e enxerto de pele nas áreas afetadas das paredes ósseas do canal auditivo externo. Apesar das pesquisas acima fornecerem dados importantes, a literatura científica especializada relata que é necessário aumentar os esforços para melhorar o conhecimento dos surfistas com relação à prevenção dos problemas de ouvido o que poderia reduzir a incidência de exostose do canal auditivo externo entre os praticantes. (Morris et.al, 2016). Objetivo: Identificar problemas de ouvidos relacionados a prática do surfe.
Métodos: Trata-se de uma revisão de caráter descritivo, quantitativo, estruturada a partir de artigos originais. As pesquisas estão incluídas na base de dados indexadas na Pubmed, Medline e Lilacs entre os anos de 2002 a 2017. Utilizando os descritores: “surfing”, “ears”, “injuries”. Foram encontrados 29 trabalhos em sua totalidade. Destes foram selecionados 12 artigos que atendem os critérios de inclusão propostos.A revisão foi realizada com o objetivo de obter informações que ajudem a responder as seguintes questões: 1) Quais as consequências que os problemas de ouvido poderão ocasionar na saúde e na rotina de vida de um individuo que surfa? 2) Uma produção científica mais relevante sobre a temática poderá demostrar a importância da prevenção de possíveis problemas de ouvido relacionados a prática do surfe? Procedimento: Os artigos foram analisados e tabulados de acordo com a frequência da temática, autores mais citados e localidade das pesquisas. Os critérios de inclusão para identificar os artigos foram: grupo alvo da pesquisa (surfistas) e problemas relacionados aos ouvidos durante a prática do surfe. Na estratégia de busca foram encontrados vinte e nove artigos, sendo que dezessete foram excluídos por não estarem dentro dos parâmetros propostos para o presente estudo. Sendo assim tiveram relevância e especificidade para nosso estudo 12 artigos, compreendendo o período de 2002 a 2017 como havia sido estabelecido. Resultados e discussão: Os dados da Tabela 1 mostram que no período de 2002 a 2017 houve uma variação nos temas relacionados à saúde dos surfistas, entretanto, o mais examinado foi a Exostose auditiva 83,33% seguidos pelos temas do pós- operatório do ouvido e saúde em geral com 8,33%. Apesar de uma pequena variação observou-se que os estudos relacionados aos problemas de ouvidos dos surfistas são restritos á área física propriamente dita. Constatou-se a carência de trabalhos nesse tema, principalmente as pesquisas relacionadas à sua prevenção e aos aspectos sociais e psicológicos que envolvem indivíduos (surfistas) que contraem qualquer inflamação no ouvido.Os dados da Tabela 2 mostram que todos os autores realizaram o mesmo número de pesquisa 1 (um) trabalho durante o período estipulado. Com relação aos países e regiões onde se realizaram as pesquisas percebe-se que o Japão e o Reino Unido estão a frente com 2 (duas) pesquisas realizadas seguidos por Irlanda, Inglaterra, Pacifico Noroeste e Espanha com 1 (um) trabalho cada. Em pesquisa realizada por Harding et. al. (2015) sobre comportamentos de risco e doenças auto-relatadas entre os surfistas do Pacífico Noroeste concluíram que as infeções de ouvidos são as doenças mais comuns entre os surfistas com 38% de frequência, seguidos pela dor de garganta ou tosse (28%), diarreia (16%), febre (10,5%) e vômitos (7%). Também relatam que aproximadamente 40% dos surfistas desconheciam se haviam surfado com algum problema de saúde. Sugerindo a necessidade de informar a essa população sobre potenciais danos e riscos que surfar com qualquer tipo de doença pode proporcionar a sua a saúde. Em outro estudo realizado por Lennon et. al.(2016) sobre a exostoses do canal auditivo em surfistas irlandeses verificaram que problemas de exostoses no ouvido são comuns entre surfista de águas frias. Foram investigados 119 surfistas, 66% tiveram exostoses e 88% desconheciam seu diagnóstico. E por fim comentam que provavelmente esse grupo de surfistas necessitará de acompanhamento de um médico Otorrinolaringologista. Já Alexander et. al. (2015) corroboram com as citações acima ao concluírem um estudo realizado em competições de surfe e Faculdades no sudoeste da Inglaterra. Este estudo foi intitulado de os efeitos do comportamento do surf no desenvolvimento da exostose do canal auditivo externo. Foram investigados 207 surfistas sendo que 53% apresentaram evidência de problemas no canal auditivo externo. Goto et. al. (2013) também ratificam e complementam as citações acima ao verificaram em pesquisa realizada no Japão que as exostoses são frequentemente diagnosticadas em pessoas que se envolvem em atividades aquáticas, daí o nome "orelha do surfista". Dizem também que essas doenças são mais prevalentes em surfistas de água fria, e que os anos adicionais de surfe potencializa o risco de não só desenvolver a exostose, mas também desenvolver outras lesões mais graves. Entretanto foi possível perceber que apesar do problema ocorrer com frequência entre os surfistas e que a maioria deles não se previna contra possíveis infecções, nota-se que uma parte dos praticantes já aceita a ideia de usar protetores de ouvido ao surfar. Sendo assim pode-se acreditar no aumento das possibilidades de verificarmos no futuro um número reduzido de problemas relacionados ao ouvido do surfista. Em síntese Reddy et.al. (2011) certificam a frase acima ao realizarem um estudo sobre a consciência dos surfistas sobre a prevenção dos problemas relacionados à "orelha do surfista" e o uso de precauções de água. Foram incluídos na pesquisa 92 surfistas do Reino Unido desses 66% tomavam cuidados para se evitar a exostoses e 38% não se precaviam sobre esse problema. Apesar de apenas dois surfistas se preocuparem frequentemente com a prevenção dos problemas de ouvido causado pela água do mar, nota-se que 61 deles não tinham esse cuidado e não usavam tampões de ouvido. Porém o estudo trouxe dados positivos ao verificar que apesar da baixa preocupação com esse problema os surfistas estão se conscientizando e admitiram que poderão usar proteção de ouvido no futuro. Sendo assim, os autores concluíram que a prevenção para se entrar na água utilizando o tampão de ouvido poderá evitar possíveis problemas de ouvido nos surfistas. Por fim, dizem que são necessários outros estudos que verifiquem os motivos para a baixa aceitação de tais precauções.Podemos aferir também ao realizarmos essa revisão que alguns autores estão implementando estudos visando reduzir a incidência dos problemas de exostoses entre os surfistas e que também o número de praticantes de surfe conscientes sobre esse problema vem aumentando em determinadas localidades. Esses dados são comprovados na pesquisa de Morris et.al ( 2016) sobre a proporção de surfistas do Reino Unido conscientes da exostose do canal auditivo externo. Esse estudo confirmou que um número significante de surfistas relatou ter consciência do problema da exostose do canal auditivo. Dos 375 surfistas investigados 86,1% disseram ter consciência de exostose do canal auditivo externo. Também foi possível perceber durante essa revisão que não só os problemas de ouvido, mas também outras doenças podem acontecer ao se realizar o surfe. O estudo realizado sobre Doenças médicas e lesões encontradas durante o surf feitos por Taylor e Zoltan (2006) concluíram que os surfistas são propensos a várias condições, desde lesões agudas até condições decorrentes da exposição ambiental crônica. As lacerações, contusões, entorses e fraturas são tipos comuns de lesão traumática aguda que poderão ocorrer durante a prática do surfe. Todavia as exostoses auditivas e a otite externa também fazem parte das doenças encontradas nesse grupo. Entretanto essa revisão sistemática nos sinaliza que os problemas de ouvidos são os mais relevantes dentro desse público. Como afirmam Altuna et.al. (2004) em pesquisa realiza com surfista da Costa Basca. Os autores concluíram que as exostoses do canal auditivo externo são tumores ósseos benignos muito comuns em indivíduos que frequentemente praticam atividades aquáticas. Neste estudo foram analisados 41 surfistas dos quais 25 tiveram problemas de ouvido e apenas 1 precisou de realizar cirúrgica. Com relação à intervenção cirúrgica do ouvido Timofeev et. al. (2004) pesquisaram especificamente sobre a recorrência de incidência de exostoses em surfistas que realizaram o procedimento cirúrgico. De acordo com o estudo não houve evidências que demonstrem que o tipo ou padrão sazonal da atividade desportiva aquática influenciou a recorrência da doença pós-operatória, embora antes da cirurgia, a estenose foi mais marcada em associação com o surf e a vela. As exostoses desenvolveram-se de forma mais rápida naqueles que estavam na água durante todo o ano e não apenas nos meses de verão. Finalizando essa discussão temos a pesquisa de Kroon et. al. (2002) que reforçam as estatísticas sobre problemas de ouvido nos surfistas principalmente nos que surfam em águas frias. Foram investigados 202 surfistas sendo que 38% tiveram exostoses auditivas externas, também foi averiguado que o número de anos de surfe influencia na aquisição do problema e que surfistas que estão em contato com águas com temperaturas baixas tem maior probabilidade de desenvolver a exostose ou até mesmo lesões mais graves. Ainda comentam que o risco de adquirir a exostoses do canal auditivo aumenta significativamente com maior frequência que se entrar no mar e com a prática do surfe no período de inverno. Cita também que os surfistas da Inglaterra tem um risco significativo de terem exostoses e finaliza dizendo que estão estudando maneiras de aumentar a conscientização sobre problemas relacionados à exostose do canal auditivo externo na comunidade de surf. Conclusão: Frente à pesquisa realizada, comprovamos que entre os surfistas não parece ser comum o uso de tampões de proteção no ouvido ao entrar no mar. A prevenção de possíveis problemas de ouvido não aparenta ter significância relevante para grande parte desse público. Também foi possível verificar que os surfistas que entram regularmente em águas com temperaturas baixas e surfam com frequência elevada tem maiores probabilidades de manifestarem complicações no ouvido como é o caso das exostoses auditivas externas.

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