Resumo

Este trabalho disserta sobre aproximações possíveis entre os pensamentos de Michel Foucault e Theodor W. Adorno, tomando como mote de análise os diagnósticos do presente por eles empreendidos, e que se materializam respectivamente nos conceitos de biopolítica e indústria cultural. A pesquisa, cujo caráter é teórico, explora a problemática das estratégias de subjetivação apontadas pelos autores, e o que essas ensejam, um controle da vida. Este se refere à redução da subjetividade ao que é meramente biológico, e ao adentramento da lógica econômica para o âmbito do privado. O trabalho foi dividido em três partes. Na primeira discorre-se sobre o conceito de biopolítica em Foucault, primeiramente apontando para a localização desse tema em seu pensamento, e em seguida expondo a "moldura" da biopolítica, o liberalismo e o neoliberalismo, em relação com outras facetas da biopolítica indicadas por Foucault ao longo de sua obra. Na segunda parte do trabalho, depois de uma breve explicação sobre o conceito de indústria cultural, argumenta-se sobre sua característica de dispositivo biopolítico, identificada na existência das massas/população como objeto de investimento econômico, na predominância de um "controle-estimulação" que normaliza os corpos e as condutas e que incita à realização pelo próprio indivíduo de um controle da vida, assim como na convergência sobre o investimento na massas/população a partir das variáveis do meio. Ainda nessa seção, apresenta-se, entre outras, as divergências sobre os efeitos neoliberais da concorrência, em Foucault e Adorno. No último capítulo é reorganizado e reavaliado material empírico de investigações anteriores - manuais de embelezamento feminino da década de quarenta do século passado (Página Femina) e dos anos dois mil (Revista Boa Forma) -, tomando-o como exemplares dos argumentos teóricos desenvolvidos, o que dá a ele certa autonomia em relação a outras partes do texto. Nas considerações finais, ressalta-se as proposições elaboradas ao longo do trabalho, sobretudo a sutileza e positividade das estratégias de subjetivação e a totalização das massas ao denominador comum do meramente biológico. Enfatiza-se a importância do desejo e do medo para a condução das condutas no sentido de uma normalização; algo muito marcante no diagnóstico adorniano, mas que indiretamente se apresenta na noção (ou "cultura") de perigo e no "controle-estimulação" descritos pelo autor francês. Em sentido complementar a essa questão, salienta-se a compreensão do corpo como meio histórico-natural, constituindo-se como uma das variáveis mais importantes de controle das massas. Ressalta-se ainda a importância da dinâmica da indústria cultural, sobretudo na redução do sujeito a um dos fenômenos específicos da população: a economicidade, ao ser o indivíduo induzido a permanecer no âmbito da oikonomia, por meio das infinitas necessidades (de consumo) produzidas e enfaticamente indicadas como essenciais para a existência, bem como pelo caráter de modelo que o princípio econômico adquire para com as relações humanas. Aponta-se como novas propostas de pesquisa, a concepção de vida no pensamento de Adorno, e a relação entre a concepção de feminino presente em sua obra e os Estudos de Gênero.

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