Resumo
O conhecimento sobre a fragilidade do idoso é relativamente recente. Poucos estudos procuraram relacionar hábitos de vida associados à anormalidades cardiocirculatórias e a fragilidade. Esta análise permite uma melhor definição sobre a participação dos aspectos multidimensionais versus biológico da síndrome e colabora na identificação de hábitos nocivos na proposta de abordagem terapêutica da fragilidade. Objetivo: Avaliar a associação entre os hábitos de vida (tabagismo, consumo nocivo de álcool e sedentarismo), permeados pela hipertensão arterial e a síndrome da fragilidade na amostra populacional de idosos do Projeto FIBRA - polo Unicamp. Material e Método: Trata-se de um estudo transversal onde foram entrevistados 3.478 idosos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 65 anos residentes em seis municípios brasileiros. Os idosos foram recrutados em seus domicílios em setores censitários urbanos sorteados ao acaso. Para inclusão, os idosos deveriam ter idade igual ou superior a 65 anos, compreender as instruções, concordar em participar e ser residente permanente no domicilio e no setor censitário. Foram excluídos: a) os idosos com déficit cognitivo grave sugestivo de demência, evidenciado por problemas de memória, atenção, orientação espacial e temporal, e comunicação; b) os que estivessem usando cadeira de rodas ou que se encontrassem provisória ou definitivamente acamados; c) os portadores de sequelas graves de Acidente Vascular Encefálico, com perda localizada de força e/ou afasia; d) os portadores de Doença de Parkinson em estágio grave ou instável, com comprometimento grave da motricidade, da fala ou da afetividade; e) os portadores de graves déficits de audição ou de visão, que dificultassem consideravelmente a comunicação; e f) os que estivessem em estágio terminal. Os idosos participaram de uma sessão de coleta de dados e após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram submetidos a um teste de rastreio mediante a aplicação do Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e realizaram medidas de identificação sociodemográficas, antropométricas, de pressão arterial, de saúde bucal e de fragilidade. Os que pontuaram abaixo da nota de corte no MEEM foram dispensados e os que pontuaram acima foram encaminhados para a segunda parte do protocolo. Os 2.318 idosos passaram para segunda parte do protocolo onde participaram de outras avaliações: hábito tabágico, consumo de álcool, prática de atividade física e auto relato de Hipertensão arterial sistêmica presente no item para doenças cardiovasculares, os quais foram objeto de análise do presente estudo. Foram considerados frágeis aqueles que apresentaram três ou mais dos seguintes critérios: perda de peso não intencional, fadiga, lentidão da marcha, baixo nível de atividade física e baixa força de preensão manual. Os achados relativos ao hábito tabágico, consumo nocivo de álcool, prática de atividade física e hipertensão arterial sistêmica foram correlacionados com a fragilidade. Conclusão: Dos hábitos de vida avaliados nesta amostra, apenas o sedentarismo apresentou relação significativa com a fragilidade. A inatividade física é um dos mais fortes preditores de incapacidade física em idosos, conferindo aumento do risco de doença, institucionalização e morte; condições estas que definem a fragilidade no idoso.