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Juventude é aquele momento da vida que sugere a proximidade da vida adulta, com todas as suas consequências, e percebe sem pesar a infância se distanciando como uma pedra na estrada da vida olhada pelo espelho retrovisor. 

De uma perspectiva simbólica a juventude remete a algo novo, fresquinho como os brotos das árvores na primavera, a força que brota pelos poros, o devir repleto de projetos. Essa é a razão de se usar o termo “novo” para aquilo que se quer superar. O novo amanhã. Uma nova instituição. Um novo país. Sei que muitas vezes o novo é usado apenas para negar o que é antigo, discussão recente entre nós. Mas, isso será tema de outro texto.

A questão central aqui é discutir os Jogos da Juventude e sua importância para o Movimento Olímpico. Idealizados ainda na gestão Jacques Rogge, os JOJ tiveram como finalidade rejuvenescer uma competição centenária que mostrava sinais de fadiga aos olhos de uma geração que ganhou muitas opções de entretenimento. Some-se a isso as inúmeras transformações sociais que levaram o esporte a se tornar uma atividade distante da educação, marcada por disputas ditadas por gênero e pouco afeita a inovações. 

Foi então que o Comitê Olímpico Internacional determinou a criação de uma competição para os mais jovens cujos objetivos seriam juntar os melhores jovens atletas do Mundo, oferecendo uma introdução ao Olimpismo, inovando na educação e no debate dos valores Olímpicos. A primeira edição de verão aconteceu em Singapura, em 2010 e a de inverno em Innsbruck, em 2012. 

Cultura e educação são as pautas centrais de uma competição que certamente aponta os atletas olímpicos do futuro. Isso também remete a um diálogo necessário e desejado com a sociedade. Outra importante inovação dos JOJ são os eventos de equipes mistas por sexo e de Comitês Olímpicos Nacionais, o que permite a disputa entre equipes com atletas de diferentes nações. Isso por si seria a concretização da utopia de Pierre de Coubertin: o esporte como linguagem universal.

Pois bem. Faço essa apresentação da jovem competição porque ela ainda não tem a visibilidade de seu irmão centenário, os Jogos Olímpicos. Por outro lado, funcionam quase como um balão de ensaio para a grande competição quadrienal. E nesta última semana foi anunciado o adiamento dos Jogos que aconteceriam na cidade africana de Dacar em 2022 para 2026. Entendo adiamento como um eufemismo para o cancelamento que de fato aconteceu. As alegações para isso são óbvias: os diferentes estágios da pandemia pelo mundo têm afetado treinos, competições e ranqueamentos, o que fere o princípio olímpico da igualdade. 

Ou seja, a perspectiva de controle do covid-19, para quem realmente enfrenta essa questão com responsabilidade, ultrapassa a barreira do desejo e vislumbra a possibilidade de controle efetivo para além do próximo ano. 

E se o JOJ são um campo de experimento ali talvez esteja uma mensagem sobre o que pode acontecer com os Jogos de Tóquio. Haveria a possibilidade de realização ainda em 2021? E voltamos a essa questão. 

Em termos internacionais o tema parece evoluir. Enquanto isso... na Ilha de Vera Cruz...

Não adianta abrir academias, estádios e ginásios, fingindo uma proto-normalidade, quando a ajuda a atletas e profissionais do esporte ainda nem passou pelo senado. E se há algo a se aprender com a proposta da juventude dos Jogos é o diálogo possível com a produção do poeta que diz “há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor e fruto”.