Resumo

O aikido é uma das mais modernas manifestações marciais nipônicas. Criado por Morihei Ueshiba (1883 – 1969), o aikido chegou ao Brasil por meio dos imigrantes Reishin Kawai, Teruo Nakatani e Ichitami Shikanai. A partir de sua influência, diferentes grupos se constituíram e os brasileiros passaram a conhecer a “arte da paz”, como o aikido também é denominado. Entretanto, apesar da forte conotação de paz e do incentivo à harmonia, o aikido brasileiro, especialmente seu pioneirismo, tornou-se motivo de dissenso e disputas entre alguns dos seguidores dos referidos mestres imigrantes. Essa constatação foi possível, mediante a utilização da história oral (de gênero temático) como metodologia na captação de memórias narrativas acerca da chegada e difusão do aikido em solo brasileiro. Dessa forma, no lugar de valorizar aspectos factuais e concretos, o presente estudo procurou privilegiar os sentidos e significados presentes nas narrativas de professores de aikido que treinaram e conviveram diretamente com os mestres Reishin Kawai, Teruo Nakatani e Ichitami Shikanai. Suas memórias foram analisadas a partir de diferentes referenciais teóricos das áreas de antropologia, sociologia, historiografia e memória. Além do caráter de disputa de alguns dos relatos recolhidos por ocasião desta pesquisa, também se destacam os motivos relativos aos processos migratórios dos mestres em questão, suas dificuldades iniciais de adaptação e o choque cultural decorrente das diferenças entre brasileiros e japoneses, bem como a consolidação do aikido em território nacional. Sobretudo, destacam-se nos relatos dos entrevistados, noções de tradição, discursos de oficialidade, concepções de técnica, assim como representações relativas ao Japão e aos japoneses. A relação entre o indivíduo e a coletividade, bem como a possibilidade de compartilhamento de memórias e sentidos pessoais também são discutidas ao longo de cada um dos capítulos. Pela ordem, a divisão de capítulos desta dissertação apresenta as seguintes discussões: 1 – a prática da transcrição como um exercício de edição, sempre arbitrário por parte do pesquisador; 2 – os significados que acompanham as memórias individuais de cada um dos entrevistados a respeito da chegada do aikido ao Brasil; 3 – a relação entre as identidades individuais e a concepção de aikido de cada um dos entrevistados; e 4 – as diferentes representações acerca da cultura japonesa, bem como as distintas formas de apropriação em relação ao aikido por parte dos entrevistados. Ganha destaque neste último capítulo, a sobrevalorização dos aspectos técnicos e marciais do aikido, em detrimento de seus sentidos espirituais e filosóficos. Assim, a natureza da atividade transcritiva, as diferenças das memórias entrevistados, a constituição de suas identidades, suas representações sobre a cultura japonesa, bem como suas distintas formas apropriação e significação do aikido, são aprofundadas em cada um dos respectivos capítulos desta dissertação, contudo, não deixam de ser pensadas como elementos indissociáveis do trabalho com fontes orais. 

Acessar Arquivo