A Mulher na Administração do Esporte no Brasil.
Por Euza Maria de Paiva Gomes (Autor).
Integra
INTRODUÇÃO:
A participação feminina como sujeito maior na política, nos movimentos sociais, nas redefinições dos papéis de gênero na família e nas conquistas esportivas, que emergiram a partir da segunda metade do século XX, merecem um estudo específico, tendo em vista as mudanças ocorridas na distribuição do poder na pós-modernidade. Foi a partir desse contexto de mudanças, acompanhado pelo processo de pós-modernidade e pelas transformações na vida cotidiana das sociedades ocidentais, que emergiu a questão foco desse trabalho. Pretende-se investigar quais as representações e práticas sociais de mulheres em cargos administrativos no esporte brasileiro sobre a trajetória de ocupação desse espaço, tendo como mediadora dessas tensões a análise das relações de gêneros. A presente intenção de estudo aponta para a necessidade de se realizar pesquisas para analisar como a sociedade, a mídia e os homens vêem a inserção das mulheres neste campo. Outro fator que nos impulsiona a investigar as representações de mulheres na administração do esporte no Brasil é a escassez de bibliografia brasileira sobre o assunto. Este trabalho somará esforços para discutir, à luz das representações sociais, a questão do poder nas relações de gênero, mudanças de valores rumo a igualdades de direitos e as oportunidades e as responsabilidades das mulheres líderes do esporte brasileiro.
METODOLOGIA:
Partindo de um breve mapeamento da condição das mulheres na administração do esporte no Brasil, pode-se afirmar que apesar de sua maior participação em cargos intermediários no campo administrativo do esporte, somente a Confederação de Ginástica, que apresenta as características tradicionalmente associadas ao estereótipo feminino, é presidida por uma mulher. Assim, foi fundamental verificar junto ao Ministério dos Esportes a existência, ou não, de projetos e planejamentos referentes à inclusão da mulher no quadro administrativo do esporte nacional. Outro aspecto importante diz respeito à representatividade da ex-atleta na administração esportiva. Neste caso, cabe ressaltar os critérios para a indicação do cargo, bem como o desenvolvimento de seu trabalho no sentido de favorecer a inclusão da mulher no movimento olímpico. No momento em que o Rio de Janeiro torna-se sede dos Jogos Pan-Americanos de 2007, que o Brasil se candidata a sediar as Olimpíadas de 2012, e com o surgimento de novos projetos, cabe indagar se há uma preocupação política de inclusão da mulher em cargos de comando do esporte, visto que o cenário esportivo mundial se enriqueceu ao abrir as portas para as mulheres competirem em igualdade de condições com os homens.
RESULTADOS:
Em 2000 a participação feminina atingiu a marca de 38.3% do número total de participantes. Apesar de quase chegar a 40% do total, ainda podemos afirmar que as mulheres sofrem uma certa discriminação quando se nota, por exemplo, que os eventos femininos recebem uma menor cobertura na mídia. Quando se mapeia o território administrativo do Ministério do Esporte, constatamos que a presença da mulher na administração esportiva não é coerente com a participação feminina no esporte de alto rendimento. As confederações esportivas no Brasil são territórios fortemente marcados pela presença masculina. Das 53 Confederações (29 filiadas e 24 vinculadas) a mulher preside uma delas, o que representa menos de 2% da participação da mulher nos órgãos máximos da administração central dos esportes. Das federações esportivas mapeadas somente 30 delas são presididas por mulheres, o que representa um percentual de 6,1%, bastante distante dos 20%, meta preconizada pelo COI para o ano de 2005. No Comitê Olímpico Brasileiro (COB) que é composto por cinqüenta membros, a presença feminina ainda é mais discreta. Nesta assembléia a participação é marcada pela coordenadora das atividades administrativas que também pertence ao comitê executivo - Christiane Paquelet Abeid. A outra representante feminina no COB é a Presidente da Confederação Brasileira de Ginástica - Vicélia Ângela Florenzano, que é a única mulher no comando de uma confederação esportiva no Brasil.
CONCLUSÕES:
A mudança no cenário de quase exclusividade masculina, no sentido de uma distribuição de poder entre mulheres e homens, demanda a adoção de uma política de visibilidade e de valorização das mulheres, bem como de capacitação política em gênero, com a definição e implantação de medidas afirmativas que abram espaços para a sua participação. Na recente Conferência Mundial sobre a Mulher e o Desporto (Março-2004), os participantes concluíram que ainda não existem ações concretas, visíveis e tangíveis que ajudem as mulheres e as jovens a praticarem o desporto e a acenderem as funções de direção desta área. Finalmente nesse encontro foram ainda reafirmados os objetivos estabelecidos em 1996, pelo COI, pelos Comitês Nacionais Olímpicos e pelas Federações Desportivas, nomeadamente que "pelo menos 20% de mulheres integrem o seio de seus órgãos executivos e legislativos, até 2005". Para as mulheres se tornarem mais presentes, precisam ocupar novos espaços além das raias das piscinas, das quadras, dos ginásios, dos campos ou pistas de atletismo. As barreiras, os estereótipos e preconceitos ainda estão presentes na mídia e na sociedade.