Resumo

Modelos socioecológicos enfatizam que a atividade física de lazer (AFL) é um comportamento complexo e influenciado por variáveis de diferentes níveis. Assim, o objetivo desta tese de doutorado foi analisar a associação entre os aspectos intrapessoais, interpessoais e ambientais com a AFL em adultos. Para tanto, foi realizado um inquérito domiciliar transversal, em 2009, com 1461 adultos (18-69 anos), de Curitiba, Paraná. A AFL foi avaliada pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ-versão longa). A caminhada e as atividades físicas moderadas e vigorosas (AFMV) foram analisadas separadamente, sendo considerados ativos aqueles que realizaram 150 min./sem. Os aspectos intrapessoais (autoeficácia e satisfação), interpessoais (apoio social da família e amigos) e ambientais (densidade residencial, acesso a espaços de lazer, estética e segurança do bairro), foram avaliados por escalas válidas para a população do estudo. Além disso, foram coletadas informações sociodemográficas de sexo, idade, condição socioeconômica e status de peso corporal. A análise de regressão logística multinível e a modelagem de equações estruturais foram utilizadas para análise das associações. Todas as análises foram realizadas por meio do pacote estatístico Stata 11.0 e Mplus 6.1. adotando-se um nível de significância de 5%. A amostra foi composta predominantemente por mulheres (63,7%), sendo que 48,4% apresentou excesso de peso, 12,9% pertence à classe econômica alta. Em relação a AFL, 18,2% e 18,8% cumprem as recomendações de caminhada e AFMV, respectivamente. Os resultados mostram que indivíduos com escores mais elevados de aspectos intrapessoais e interpessoais foram mais ativos na caminhada e AFMV no lazer. Além disso, aspectos do ambiente como maior acesso, melhor estética e maior segurança do bairro estão associados com AFL. Também foi observada interação significativa entre maior densidade residencial com apoio social dos amigos para caminhada (OR=1,66; IC95%: 1,01-2,91) e com satisfação para AFMV (OR= 1,62; IC95%: 1,00-2,67). Indivíduos que percebem melhor estética do bairro e possuem apoio social da família foram mais ativos em AFMV (OR=1,68; IC95%: 1,00-3,02). Uma maior percepção de segurança no bairro foi associada com maior proporção de indivíduos ativos em AFMV, porém essa associação somente foi observada em indivíduos com elevada autoeficácia (OR=2,15; IC95%: 1,08-4,28). Por fim, verificou-se que os aspectos do ambiente do bairro (acesso a locais para lazer e segurança), apresentam um efeito indireto na caminhada e AFMV, influenciando as percepções de autoeficácia e satisfação. Com base nos resultados pode-se concluir que a AFL é um comportamento multidimensional, influenciado por variáveis de diferentes níveis, e que intervenções que utilizem abordagens socioecológicas podem ser promissoras no aumento da AFL. Por outro lado, o estudo demonstra que existe um papel indireto das características do ambiente do bairro nas percepções intrapessoais e interpessoais que podem explicar importantes mecanismos do efeito do ambiente na AFL.

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