Integra

Tenho me preocupado muito em relação à quantidade crescente de informações desencontradas sobre questões associadas à possibilidade da prática de exercícios físicos pela população face à pandemia do Corona Vírus. Dessa forma, torna-se imprescindível nos apegarmos às fontes seguras de informações e com evidências científicas. Proibidas inicialmente, as academias de ginástica foram reabertas em quase todo o território brasileiro, o que tem gerado muita discussão entre os cientistas. Locais fechados, na maioria das vezes úmidos e quentes, ou que compartilham ar condicionado inapropriado, com ar turbulento, com aglomerações e compartilhamento de equipamentos e materiais, indubitavelmente são condições ideais para que o vírus se espalhe em um momento que a situação ainda é crítica. Embora entenda a crise que muitos proprietários de academias e funcionários vivem, acho que os riscos e consequências são extremamente preocupantes.

Mais recentemente, começaram também os questionamentos a respeito do uso da máscara, que pode dificultar a respiração durante a prática do exercício físico. A máscara é um equipamento simples, mas oferece ótima proteção. Como o vírus usa como porta de entrada principalmente o trato respiratório – nariz, boca e pulmões – é altamente contagioso quando as pessoas espirram, tossem ou trocam gotículas respiratórias com outras pessoas. Essa troca também é promovida quando a pessoa está realizando exercícios físicos. Embora a máscara forneça alguma proteção, ela não elimina a necessidade de distanciamento social. Cerca de 25% das pessoas infectadas com o novo coronavírus podem não apresentar sintomas, mas mesmo assim, transmitem o vírus. Um dos principais problemas do uso de máscara é que ela dificulta a respiração, pois gradualmente fica úmida e aumenta a resistência à entrada de ar.

Para abordarmos claramente o que a ciência diz a respeito desses assuntos, trago o artigo publicado no volume de abril da Revista Brasileira de Medicina do Esporte, pelo Paulo Silva (profissional de Educação Física), Julia Greve e André Pedrinelli, médicos, pesquisadores da Universidade de São Paulo e algumas posições pessoais sobre o assunto.

Vamos às perguntas centrais:

Usar a máscara realmente promove a proteção necessária?

Máscaras são ótimas ferramentas de proteção no bloqueio gotículas maiores e não tão boas em bloquear pequenas partículas. Quando uma pessoa expele gotículas no ar, elas rapidamente evaporam e encolhem, tornando-se pequenas partículas transportadas pelo ar, chamadas núcleos de gotículas. Estes são extremamente difíceis para remover do ar. No entanto, na atmosfera úmida entre a boca da pessoa e sua máscara, leva-se quase cem vezes mais para que uma gota evapore. Na prática, isso significa que quase qualquer tipo de máscara simples de pano é excelente para controlar a fonte do agente infeccioso.

Caso as autoridades decidam pela reabertura das academias, devemos usar a máscara durante os treinamentos?

Sim! Em locais fechados, sempre que houver compartilhamento do espaço com outras pessoas, deve-se usar a máscara. Recentemente, pesquisadores coreanos mostraram que exercícios vigorosos em espaços confinados, como aulas de danças, devem ser evitados, pois o risco de contaminação é grande.

Ventilação ineficiente, alta níveis de CO2, umidade e alta temperatura em uma academia, combinados com ar turbulento gerado por exercícios físicos intensos, podem causar mais transmissão densa de gotículas isoladas causando altos riscos de infecções. No entanto, praticar aulas mais leves como ioga e Pilates não se mostrou um grande risco, justamente por respeitar a recomendação de distanciamento social. Particularmente, sou um defensor de que, nesse momento, ainda deve-se evitar locais com as características das academias de ginástica, destinando-as apenas àqueles que pertencem a alguma população especial e necessitam especialmente dos equipamentos e infraestrutura das mesmas. Caso contrário, opte por treinar em casa com orientação de um profissional capacitado, ou ao ar livre.

É obrigatório usar máscara em ambientes externos?

Para responder a essa pergunta, precisamos destacar dois pontos. O primeiro é que devemos respeitar as regras impostas pelo município em que vivemos. Diversas cidades obrigam ainda o uso de máscara em ambiente externo. Se esse não for o seu caso, se exercitar ao ar livre, com ou sem máscara, parece seguro, segundo a maioria dos especialistas. Relativamente, pouca transmissão da COVID-19 ocorreria ao ar livre, exceto talvez em grandes multidões devido ao aumento do volume da taxa de respiração que ajudaria o vírus a espalhar as gotas. Em estudo realizado por pesquisadores da Bélgica e da Holanda sugerem que a distância deva ser de no mínimo 20 m entre as pessoas, dependendo do exercício. Portanto, sempre que houver o risco de aproximação de outras pessoas, use a máscara.

Usar a máscara tornará o exercício mais intenso?

A resposta é sim, pois a máscara restringe o fluxo de ar, simulando um treinamento em altitude! Portanto, lembre-se sempre de se adaptar ao exercício com máscara, reduzindo a intensidade que era praticada antes da pandemia. Atenção especial aos praticantes que possuem doenças que não permitem altas intensidades de exercícios. Nesses casos, deve-se diminuir ainda mais a intensidade do exercício.

Outro problema é que o material que cobre o nariz e a boca se tornará gradualmente úmido, devido ao suor e vapor de água das exalações pulmonares. A máscara então se transforma em uma “mini sauna”, levando ao acúmulo de suor sob a máscara e aumento das secreções nasais. Com isso, a eficácia da máscara pode diminuir.

Realizar a respiração apenas pelo nariz resolveria nesse caso?

Sim, pois a respiração nasal produz menos gotas de água que a respiração pela boca, mantendo a máscara mais seca. No entanto, quando o exercício se torna extenuante, mesmo atletas não conseguem realizar a respiração apenas pelo nariz!

Portanto, mais uma vez, a palavra de ordem é moderação!