Resumo
Ao explorarmos o campo histórico do Esporte, é possível percebê-lo como espaço (re)produtor de saberes biopolíticos sexistas que segregam, normalizam e enquadram sujeitos. Neste panorama, o voleibol emerge como modalidade frutífera no que tange as possibilidades de performatizações que desviam das normas cisgêneras. Sob esta ótica, investigar a trajetória de atletas trans é uma potente ferramenta para tensionar os processos normalizadores que promovem reconhecimento e legitimidade das corporalidades e performances nos espaços competitivos em questão. O objetivo geral da presente obra foi problematizar a participação e repercussão de mulheres transexuais no voleibol feminino brasileiro, tendo como questões norteadores as seguintes perguntas: 1- De que forma as mulheres transexuais desenvolveram ou desenvolvem suas trajetórias esportivas no voleibol?; e 2- Como vem sendo interpretada, no Brasil, a participação de mulheres transexuais no esporte, mais especificamente, no voleibol? Metodologicamente, esta obra se (des)estrutura de uma forma diferente ao clássico modelo de um documento de tese de doutorado. As reflexões aqui desenvolvidas, à luz do aporte teórico queer, decolonial e pós-colonial, não seguem uma única lógica de investigação de dados, articulando-se através de artigos independentes e com formas de análise diferentes entre si (revisões sistemáticas, análise bibliométrica, análise de documentos, estudos de caso, análises de conteúdo e discurso, que se traduzem em narrativas). Apresento quatro grandes unidades: a primeira denomina-se “Discussões basilares”, na qual situo as correntes teóricas que estruturam este trabalho, concernentes aos gêneros, às sexualidades, aos corpos, às transexualidades e às performatividades esportivas; a segunda denomina-se “Levantamento teórico”, trazendo dois artigos que fazem um mapeamento da produção científica sobre atletas trans e/no Esporte; a terceira intitula-se “Aprofundamento das discussões”, composta por 9 artigos. Neste bloco, apresento problematizações sobre a inserção, permanência e atuação de mulheres transexuais no voleibol feminino pelo Brasil, bem como analiso de que forma o Poder Legislativo, a mídia e renomadas figuras públicas nacionais da modalidade e/ou ligadas à área (re)tratam e se posicionam sobre a temática; e na quarta, denominada “Síntese conclusiva”, exponho a tese de que a trajetória esportiva de jogadoras transexuais no voleibol feminino brasileiro é cistematicamente interpretada e vigiada, resultando no desconhecimento e ilegitimidade de sua participação no Esporte à luz da cisheteronormatividade. O voleibol emergiu nesse processo, na maior parte dos casos, como uma modalidade potencialmente transformadora, onde pudemos vislumbrar a participação das atletas transexuais e perceber que as reflexões que norteiam a divisão esportiva à luz dos preceitos de moral, de justiça e idoneidade vão muito além do que apenas o par de cromossomos XY ou XX.