Resumo

Atualmente vivemos um momento delicado quando nos referimos à violência. Crescem a cada dia os índices de violências físicas e simbólicas contra os diferentes grupos sociais, fazendo com que diversos cidadãos se privem de momentos junto a outros indivíduos na tentativa de preservar sua integridade física e moral. No entanto, não é apenas na sociedade maior que presenciamos atos deploráveis. A violência esportiva vem sendo intensamente discutida nas mídias de comunicação e textos científicos devido aos atuais casos que mancham negativamente a reputação esportiva. No futebol não é diferente, durante uma partida podemos observar diversas agressões físicas, como cotoveladas, chutes, pisões, socos, além de outros tipos de violência, como os xingamentos, a provocação e a invenção para prejudicar o outro. Durante leituras sobre o assunto, percebemos também que não faltam autores para apontar e afirmar que o futebol é violento e que a violência dentro de campo influencia na praticada em sociedade. Apesar de concordarmos em parte, a intenção deste trabalho é a de ceder voz ativa para um agente importante que pouco é escutado, o jogador. Assim, temos como objetivo geral investigar as representações da violência na perspectiva de atletas de futebol do clube Olaria Atlético Clube da cidade do Rio de Janeiro. Além dos objetivos específicos de identificar quais são os episódios mais recorrentes de violência física e simbólica em seu clube e verificar se existe, na percepção dos jogadores, a construção e separação de classes estigmatizadas em seu ambiente de trabalho, assim como suas repercussões. Assim, buscamos entender como a violência física e simbólica dos jogadores de futebol influencia seus próprios comportamentos e os da sociedade, e ainda, como os mesmos percebem esse evento. Para tanto, utilizamos como metodologia a pesquisa qualitativa analítica, em formato etnográfico, com duração de coleta de dados de aproximadamente 4 meses, no clube Olaria Atlético Clube da cidade do Rio de Janeiro, no qual inicialmente foram recolhidos dados por diário de campo na média de 1 a 3 dias na semana e ao final deste processo, foram realizadas 7 entrevistas semi-estruturadas e individuais nos jogadores do time profissional, escolhidos aleatoriamente e após o horário de treino. Para alcançar os resultados, optamos pela análise do conteúdo contida nas entrevistas em paralelo aos dados coletados por diário de campo, identificando quais foram os principais paradigmas indiciários presentes. Em considerações finais possuímos dados suficientes para sugerir que exista certa naturalização da violência por parte dos jogadores e outros agentes envolvidos no futebol, fazendo com que a percepção de violência seja diferente quando comparamos profissionais do esporte com outras pessoas que vivem o fenômeno por outros ambientes. Outro fato que chamou a atenção foi a dificuldade que alguns jogadores apresentaram quanto a entender quais atos poderiam ser chamados de violência simbólica, ao contrário da violência física, identificada e discutida com clareza. Diante das informações alcançadas no trabalho, é preciso que não só existam políticas públicas contra a violência, mas sim, intervenções que alcancem simbolicamente a percepção do que é ser violento para um jogador de futebol e para todos aqueles que de alguma maneira estão envolvidos com o esporte.

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